Ele levava só uma muda de roupa
Um grande amigo que tive foi um suíço naturalizado mineiro. Isso mesmo: não se dizia brasileiro, considerava-se mineiro. Chamava-se Heinz Charles Koller. Eu brincava com ele, traduzindo o seu nome para o português: Henrique Carlos Carvoeiro. E lembrava sempre que aqui no Brasil acham que é coisa de caipira não usar o sobrenome para falar de uma pessoa, mas a profissão: Antônio Barbeiro, Pedro Pedreiro...
Pois se a gente for verificar os sobrenomes europeus que muita gente acha chique, grande parte deles refere-se à profissão. Schmidt, por exemplo, em alemão é ferreiro; em italiano Ferrari é ferreiro também, assim como Haddad, em árabe e Kowalski em polonês. Transformaram em sobrenome oficial o apelido por causa da profissão. Mais exemplos: Fischer, em inglês, é pescador; Porchat, em francês, é criador de porcos; e Zagallo, em espanhol, é pastor.
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Outros sobrenomes são de alguma característica física das pessoas: Tolstoi, em russo, é gordo; Schiller, em alemão, é vesgo; Calvino, em italiano, é carequinha; e Goulart, em francês, é comilão, guloso.
Volto ao Heinz... Quando se formou em Geografia, na USP, ele fez pós-graduação e foi ser professor na Universidade Federal de Minas Gerais. Lá se identificou com os mineiros e adquiriu a cidadania brasileira.
Ele pesquisava, entre outras coisas, as grutas calcáreas de Minas Gerais, e de vez em quando chamava para umas viagens de estudos com alunos da universidade. Uma vez fui com ele e duas geógrafas fazer um trabalho no Vale do Jequitinhonha, durante uns vinte dias. Fazia parte desse trabalho retirar amostras de terras do subsolo, o que dava uma canseira danada e deixava a gente com a roupa suada e muito suja.
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Levei uma mochila grande, com várias calças, camisas, cuecas, meias... E tinha que mandar lavar quando parava mais tempo em alguma cidade.
Ele brincou comigo, riu, e me ensinou uma coisa que tinha aprendido com outro geógrafo, Eduardo Pazzera, em viagens como aquela, em lugares quentes. Ele levava só uma muda de roupa.
Quando chegava no hotel, à noite, tomava um banho com roupa e tudo, só tirava a roupa depois do banho, aí colocava pra secar e vestia a roupa limpa. No dia seguinte, ia para o campo com a roupa limpa (sem passar, mas mais ou menos limpa)... e assim ia.
Aprendi... Podem experimentar, que dá certo.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Daniel Lamir