mel do bem

Conheça a Jandaíra, a pequena abelha nordestina com mel diferenciado e amiga do semiárido

Dona de um mel considerado mais líquido e rico em flavonóides, a espécie não tem ferrão e ajuda a polinizar a caatinga.

Ouça o áudio:

A Jandaíra ou Jandaíra do Nordeste (melipona subnitida) é a terceira espécie de abelha mais criada do Brasil - Fábia Pereira/Embrapa
A Jandaíra é muito famosa por seu mel diferenciado

Jair Alencar, criador, apicultor e produtor de mel de abelha sem ferrão, acorda cedinho para fazer uma das coisas que mais gosta na vida: estar rodeado de abelhas. 

“Hoje em dia eu acordo mais cedo, vou observar qual planta está florando, quais abelhas estão visitando as plantas… No amanhecer do dia, eu tô nessa atividade de campo, observando as plantas, quais as necessidades das abelhas, de qual planta eu devo plantar mais”, conta. 

Mas o amor por esses importantes insetos não vem de hoje". A criação de abelhas é uma atividade tradicional na minha família, desde criança eu vejo o meu pai trabalhando com a criação da abelha com ferrão, a apis mellifera”

Saiba mais: Além dos benefícios para a saúde, o mel é uma boa opção para comercialização

"É uma troca de saberes e

E essa paixão, que passou de pai para filho, despertou em Jair o desejo de trabalhar na preservação da espécie. Foi quando decidiu se aprofundar no assunto e mergulhou no incrível mundo das meliponinis, também conhecidas como abelhas sem ferrão. 

A partir daí, o que era apenas um hobby se transformou também em meio de sustento. "De início, meu intuito era a preservação desses enxames e a reintrodução aqui na nossa região. A questão financeira veio naturalmente. Hoje em dia eu consigo comercializar o mel da jandaíra, própolis e vários outros produtos, e com isso uma renda extra”.


De pai para filho: a criação de abelhas é uma atividade tradicional na família de Jair Alencar / Reprodução

No mundo, são mais de 20 mil espécies de abelhas e um terço da produção de alimentos do planeta depende do trabalho delas, que se dividem em dois grupos: as solitárias e as sociais. 

A maior parte é formada pelas abelhas solitárias. Fugindo do estereótipo dos insetos que vivem em colmeias e trabalham por meio da cooperação, as solitárias vivem sozinhas e não cuidam de suas crias.

Já no grupo das sociais, ou abelhas sem ferrão, há mais de 550 espécies de meliponinis no mundo; e o Brasil é o país com a maior quantidade delas.

“São 243 espécies de abelhas sem ferrão aqui no Brasil e dentre elas a gente tem a Jandaíra, que é a 3º mais criada, que é a melipona subnitida. Essa é a terceira mais criada no país. Então, em número de colônias criadas, ela só perde para Jataí e para a Mandaçaia”, explica Hiara Menezes, doutora em abelhas e polinização.

Conheça também: Alimento funcional, própolis tem efeito bactericida e cicatrizante

A Jandaíra é muito famosa por seu mel diferenciado. Essa abelha é característica da região Nordeste. Mas, pra isso, ela precisou se reinventar e ajustar suas demandas para se adaptar às características peculiares do semiárido. "Em algumas épocas do ano, a gente tem temperaturas altíssimas, a umidade do ar vai lá pra baixo, então ela se ajustou para conseguir sobreviver nesse clima bem duro”, ressalta.

De acordo com a especialista, o insumo é bastante procurado e carrega características que o fazem único e sua pequena produção torna o mel ainda mais valioso.

“A primeira que tem o impacto no valor do preço de mercado desse mel é a quantidade de mel que é produzido por colônia/ano. É uma quantidade bem mais reduzida quando a gente compara com a produção das abelhas com ferrão, então isso vai ter uma influência direta no preço desse produto na prateleira”, complementa Menezes. 

Mas para além do preço, há vários fatores tornam o insumo produzido por abelhas desta família diferenciado

“Os primeiros e mais perceptíveis são: a acidez desse mel, então é um mel bem mais ácido e muito mais líquido, bem menos viscoso do que o mel convencional de abelha com ferrão. O mel de Jandaíra e de outras abelhas sem ferrão é mais rico em flavonóides, por ter um contato muito maior com a própolis”, destaca. 

 

Edição: Douglas Matos