O registro fotográfico da cultura negra de diversas regiões do país, por meio de ritos, festas populares e religiosas, além de cenas cotidianas, chega a partir desta quarta-feira (9) ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, pelo olhar de Walter Firmo, que ganha um panorama de sua obra nos mais de 70 anos de trajetória como consagrado fotógrafo carioca.
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A grande exposição retrospectiva “Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito”, que tem entrada gratuita, chega ao Rio de Janeiro depois de ter sido exibida com enorme sucesso no Instituto Moreira Salles de São Paulo (IMS Paulista), e marca o início da parceria – inédita – entre as duas instituições. O IMS fechará sua sede carioca para reforma em abril de 2023.
"As imagens de Firmo despertam memórias de uma afetividade profunda, que certamente aumentam a conexão das pessoas com a produção cultural brasileira", afirma afirma Sueli Voltarelli, Gerente Geral do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, acrescentando como muito significativa a parceria com o IMS que celebra uma mostra que tem tanta relação com a identidade carioca.
"Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito" ocupará todas as salas do 2º andar do CCBB RJ com 266 fotografias, produzidas desde 1950, no início da carreira de Firmo, até 2021. São imagens que retratam e exaltam a população e a cultura negra e destacam a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas.
"Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou", diz Walter Firmo.
Subúrbio
O fotógrafo percorreu intensamente todo o país, mas sempre manteve um vínculo especial com o Rio de Janeiro, sua cidade natal, onde iniciou e construiu sua carreira e desenhou sua trajetória na fotografia, a partir da vivência de homem negro nascido e criado nos subúrbios e arrabaldes de Mesquita, Nilópolis, Marechal Hermes, Osvaldo Cruz, Vaz Lobo, Cordovil, Parada de Lucas, Vista Alegre e Irajá, territórios do samba de raiz e do permanente ronco da cuíca.
Dividida em núcleos temáticos, a mostra traz retratos memoráveis de grandes nomes da música brasileira, como Cartola, Clementina de Jesus, entre tantos outros, e a icônica fotografia de Pixinguinha na cadeira de balanço, além de destacar a importante trajetória de Firmo como fotojornalista e de dedicar uma seção à fotografia em preto e branco do artista, pouco conhecida e, em grande parte, inédita.
A exposição é uma oportunidade para o público conhecer em profundidade a obra de um dos grandes fotógrafos do nosso país, que até hoje mantém seu compromisso pelo fazer artístico: "Aí está o meu relato, a história de uma vida dedicada ao fazer fotográfico, dias encantados, anos dourados. Qual a minha melhor imagem? Certamente aquela que em vida ainda poderei fazer. Emoções, demais", afirma o fotógrafo.
Filho de paraenses, Walter Firmo nasceu em 1937 no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro, e foi criado no subúrbio carioca. O artista começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai. Aos 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora. Mais tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade, como um dos primeiros fotógrafos da revista. Em 1967, já trabalhando na revista Manchete, foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York.
Neste período no exterior, o artista teve contato com o movimento Black is Beautiful e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.
Serviço
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) fica na Rua Primeiro de Março, 66, no Centro do Rio, próximo à Igreja da Candelária. A classificação indicativa da exposição é de 14 anos e a mostra vai até 27 de março de 2023. O CCBB está aberto às segundas, e de quarta a sábado, das 9h às 21h. Domingo, das 9h às 20h. Não abre às terças-feiras.
Entrada franca, com ingressos disponíveis na bilheteria física ou pelo site do CCBB - bb.com.br/cultura.
Edição: Eduardo Miranda