Outra palavra me veio à cabeça em seguida: “purriba”. Significa “por cima”
Hoje eu me lembrei de uma palavra que não escuto há muito tempo: mó. Sabem o que significa?
É da minha cidade, e significa “parece”. Mas só em certas frases. Por exemplo: se vou falar que “parece que você não entende o que eu falo”, digo: “mó que ocê num entende o que eu falo”. Se vou dizer que o fulano se parece com o beltrano, não é o caso de usar mó. Nós, de origem caipira, falávamos desse jeito mesmo: “O fulano parece com o beltrano”.
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Outra palavra me veio à cabeça em seguida: “purriba”. Significa “por cima”. Por exemplo: se você vai contar de um jogo de futebol em que a bola passou por cima do adversário, diz que a bola passou “purriba” dele.
Vou dar um exemplo de uso dessas palavras contando uma velha piada. Caipira dos bons finge não se impressionar com nada. Um dia, dois deles pitavam um cigarrinho de palha e conversavam, e passou um elefante voando “purriba” deles, mas eles continuaram a conversa como se fosse normal elefante voar.
Um minuto depois, passou outro elefante voando, e nem ligaram. Passou mais um, mais outro... Quando passou o quinto elefante voando, um deles falou: “Mó que o ninho deles é praquela banda”.
Agora vou contar um causo que aconteceu de verdade. Um sitiante da minha terra comprou um cavalo de raça, pra cruzar com as éguas da vizinhança. Ia cobrar um dinheirinho para cada cruza.
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Quem cuidava do cavalo dele era o Porcilhano, empregado baixinho e esperto.
O sitiante tinha uma égua bem ruinzinha, de nome Maiada, e um dia percebeu que ela estava entrando no cio. Falou pro Porcilhano: “Não deixa o cavalo cruzar com a Maiada. Não vamos desperdiçar uma cruza. Tranque a égua no curral e não deixe o cavalo nem chegar perto”.
Mas o cheiro do cio da Maiada atraiu o cavalo, que foi se aproximando do curral fechado. O Porcilhano estava no curral, quando o cavalo pulou por cima da cerca e ia em direção à égua. Ele ficou de frente pro cavalo, de braços abertos, gritando mas o cavalo pulou por cima dele também, e foi direto pra cima da Maiada.
Nesse momento, chegou o sitiante, que falou brabo pro Porcilhano:
— Não falei procê não deixar o cavalo cruzar com a Maiada?
O Porcilhano retrucou:
— Uai... Ele voô purriba da cerca, eu fiquei na frente dele, mas ele voô purriba de mim tamém. Mó que esse cavalo tem sangue de avião!
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Daniel Lamir