O desfecho do governo de Jair Bolsonaro (PL) promete ser ainda mais destrutivo para Amazônia do que os últimos 4 anos. É o que indicam estatísticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do próprio governo federal, sobre dois estados amazônicos onde o bolsonarismo é a força política dominante.
Em Rondônia e no Acre, as queimadas na primeira semana de novembro, logo após as eleições, ultrapassaram os piores números já registrados desde o início da série histórica, em 1998. Os estados deram mais de 70% dos votos a Bolsonaro e reelegeram apoiadores do presidente para governador.
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Rondônia fechou a primeira semana do mês com 1302 focos de queimadas, contra 125 no mesmo período de 2021. O aumento foi de quase 1000% entre um ano e outro. O pior início de novembro até então havia sido em 2005, com 1028 ocorrências.
No Acre, 728 focos foram detectados pelo Inpe no acumulado do mês. O número é quase cinco vezes superior ao do início de novembro de 2011, o pior da série histórica, quando 152 queimadas foram registradas.
"Baile da Ilha Fiscal"
Ao contrário de Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu fazer cumprir a legislação ambiental brasileira a partir de 2023. Na bagagem da administração do petista, está a redução sem precedentes de 70% do desmatamento da Amazônia entre 2003 e 2011.
Com a expectativa de que o novo governo cumpra a promessa de "desmatamento zero", especialistas já suspeitavam que a degradação da Amazônia pudesse sofrer aumento significativo neste ano.
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"O ano de 2022 me assusta. Tenho uma sensação de Baile da Ilha Fiscal. Ou seja, 'vamos degradar o mais rápido possível antes que mude de governo'", afirmou ao Brasil de Fato em fevereiro deste ano a ex-presidente do Ibama e especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima (OC), Suely Araújo.
Citado por Araújo, o Baile da Ilha Fiscal foi o último grande e opulento banquete da monarquia brasileira, realizado em 9 de novembro, há 133 anos. Dias depois, a República foi instaurada, e os monarcas perderam privilégios.
Bolsonaro consolidou nova frente de devastação
Partes de Rondônia, Acre e sul do Amazonas formam a região chamada de Amacro, junção das siglas dos estados. Sob Bolsonaro, a área se tornou uma nova frente de expansão do agronegócio. Segundo o Mapbiomas, a tríplice fronteira estadual concentrou 20% de tudo o que foi desmatado na Amazônia entre 2020 e 2021.
Segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o Amacro consolidou-se como um polo de devastação graças ao enfraquecimento recente da fiscalização ambiental, anistia a crimes ambientais e expectativa de legalização de terras griladas.
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No Acre e em Rondônia, o aumento dos incêndios florestais ocorre em um período em que deveriam estar diminuindo. Em boa parte da Amazônia, novembro marca a saída da estação seca e a entrada da temporada de chuvas, quando os incêndios costumam cair.
Reeleitos em RO e AC têm ruralistas na base
Neste ano, Rondônia reelegeu o Coronel Marcos Rocha (União) para governador. Policial militar de carreira, Rocha estreou na política na onda bolsonarista em 2018. Seu mandato foi marcado pelo desprezo à legislação ambiental e pela redução de unidades de conservação estaduais em favor do agronegócio.
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No Acre, o governador reeleito foi Gladson Cameli (PP). De família tradicional na política acreana, foi eleito em 2018 na esteira do antipetismo, rompendo com 20 anos de governo do PT no estado. Ruralistas, evangélicos e grandes empresários compõem sua base de apoio.
Edição: Thalita Pires