Rio de Janeiro

RESISTÊNCIA

No Dia da Favela, moradores pedem respeito e comemoram vitória de Lula

Moradores afirmam que data é oportunidade para refletir visão da sociedade e do Estado sobre as comunidades no RJ

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Presidente eleito, Lula (PT) foi o único candidato que esteve em favelas no Rio de Janeiro - Ricardo Stuckert

Diversas favelas do Rio de Janeiro comemoram nesta sexta-feira (4) o Dia da Favela com atividades culturais, práticas esportivas e de brincadeira para as crianças. A data marca a primeira aparição do termo em um documento oficial. Para além da festa, moradores afirmam que a data é uma oportunidade para a sociedade desconstruir estereótipos e refletir sobre a forma como as favelas são criminalizadas pelo Estado.

Leia mais: Moradoras de favelas reagem a fake news sobre CPX no boné de Lula: "Criminalização do favelado"

Para Jaime Muniz, do movimento Favela Ação, a importância da data está em exaltar a potência das favelas e a luta histórica por direitos. O movimento atua em mais de 30 comunidades do Rio de Janeiro, entre elas o Complexo do Alemão e o Jacarezinho, na zona Norte. Ele destaca que a resistência é uma característica em comum que vem desde a formação das primeiras favelas.

"Com a libertação das senzalas, acharam que a gente não ia sobreviver, mas ocupamos os espaços rejeitados pela sociedade, o alto do morro, beira de rios, encostas. E a favela foi crescendo. O que a gente pede é que as favelas sejam respeitadas. Somos trabalhadores, pessoas de bem. Quando você dá oportunidade, a favela sempre responde de forma positiva", disse Jaime, conselheiro da Federação das Associações de Favelas (Faferj).

A fake news com o boné usado pelo presidente eleito Lula (PT) no Complexo do Alemão é apenas um exemplo da criminalização diária que as favelas sofrem, na opinião de Gizele Martins, moradora do Complexo da Maré e comunicadora popular. O atual presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a afirmar que havia "só traficante" no evento.

"Uma simples sigla CPX usada pelo próprio Estado para identificar locais onde existem muitas favelas juntas. Tudo na favela é criminalizado, a roupa, o funk, o forró, o pagode, o rap, o hip-hop, a moradia, o transporte alternativo. Somos mais do que qualquer significação que façam sobre nós favelados", afirma Gizele.

"Os próprios governantes que marcam o Dia da Favela são os mesmos que excluem a favela de qualquer tipo de direitos. Quando eles gastam dinheiro para controlar a favela com o que eles chamam de segurança pública e deixam de investir em educação, saúde, moradia, cultura", explica a jornalista.

Jaime Muniz completa que a sigla é usada principalmente por jovens em roupas e bonés como forma de demonstrar orgulho da favela. Fato que Bolsonaro ignora ao tentar associar moradores de favela ao tráfico.

"A favela apoiou o Lula porque foi o único presidente que teve um olhar diferenciado para as favelas, que deu oportunidade não só do Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, mas também abriu as universidades públicas para a favela, para os filhos dos pobres", conclui.

Edição: Jaqueline Deister