opinião

Sakamoto: Silêncio de Bolsonaro sobre os bloqueios lubrifica golpismo nas rodovias

Um país com 33 milhões de famintos teria outras prioridades se não fosse governado por quem só pensa em si mesmo

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Bolsonaristas fecham estrada em Volta Redonda, no Rio de Janeiro - MAURO PIMENTEL / AFP

O silêncio de Bolsonaro após o resultado do segundo turno incentiva o naco de seus seguidores que não admite a sua derrota a bloquear rodovias e defender um golpe de Estado. Acreditam que a falta de manifestação de Jair é, em si, uma manifestação de apoio ao golpismo. E, ao que tudo indica, podem estar certos.

Tudo isso vem sendo feito com o apoio da Polícia Rodoviária Federal que, ao invés de desmobilizar os bloqueios, está operando como seus seguranças particulares pagos com o dinheiro dos impostos. A PRF não precisava de autorização judicial para liberar o tráfego - basta ver como eles negociam com sucesso junto a movimentos sociais que protestam em rodovias.

Agora, com decisões da Justiça Federal obtidas pela Advocacia-Geral da União em estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, talvez o diretor-geral da corporação lembre-se que ele serve ao país e não às necessidades políticas do presidente.

Bolsonaro sabe que não há espaço para tentar um ataque direto à democracia quando até seus aliados no Congresso Nacional, como o presidente da Câmara, Arthur Lira, já afirmaram que a eleições foram limpas. Ao mesmo tempo, o mundo, dos Estados Unidos à Rússia e China, correu para parabenizar Lula. Afinal, sabem que o Brasil volta a ter um adulto para negociar.

Em mensagens trocadas em grupos de WhatsApp, bolsonaristas dizem que o presidente está em silêncio porque organiza, junto com as Forças Armadas, a batalha final às forças golpistas do TSE, do PT e da China que fraudaram as eleições usando algoritmos manipuladores. Parece brincadeira, mas não é. Eles acham que golpistas são os outros e eles é que são os salvadores.

Na verdade, o que temos é um presidente com medo de ir para a cadeia quando terminar o seu mandato buscando formas de salvar a própria pele.

Quando acuado, Bolsonaro sempre recorreu à hiperexcitação de seus seguidores, que fazem de tudo para defendê-lo, inclusive trancar estradas. Considerando a dificuldade de um golpe na prática, ele tenta criar uma narrativa para manter a influência sobre o seu rebanho a partir de primeiro de janeiro de 2023 - o que seria muito útil para dificultar uma prisão por um dos muitos crimes que ele cometeu. Ou mesmo para tentar voltar em 2026.

O grande problema, como já disse aqui, é que alguns dos espécimes que o seguem, quando hiperexcitados, costumam fazer loucuras fora do planejado. Como foi com Roberto Jefferson e Carla Zambelli e suas armas.

Daí, pessoas morrem. Por exemplo, Pedro Henrique Dias, de 28 anos, foi assassinado e outras três pessoas ficaram feridas após serem baleados por um homem, em Belo Horizonte, neste domingo (30) quando celebravam a vitória e Lula. Nas redes sociais, pipocam vídeos de bolsonaristas que apontaram armas ou atiraram em celebrações pela vitória do petista.

Pedro não deve ser o único, pois o silêncio de Jair funciona como um "eu autorizo" para o naco de sociopatas e violentos que o admiram.

Por mais que não se consolide, o golpismo lubrificado pode girar mais rapidamente, fazendo com que os próximos dois meses sejam um inferno. Um país com 33 milhões de famintos teria outras prioridades se não fosse comandando por um presidente cuja prioridade é si mesmo.

*As opiniões contidas nesse texto não refletem necessariamente a posição do Brasil de Fato