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Nomes bonitos...

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Meu amigo quis ser democrático demais e perguntou ao menino se ele queria manter o nome Tiago ou se preferia mudar - Creative Commons
Na pronúncia dele, nenhum começava com A

Um dos muitos empregos que tive foi num cartório eleitoral, e uma das minhas funções era atender ao pessoal que ia tirar título de eleitor. Reparei como o pessoal gostava de dar aos filhos nomes com letras K, W e Y, que na época não faziam parte do alfabeto oficial. Qualquer nome que tinha a letra C, com a pronúncia Q, substituíam pela letra K. I sempre era substituído por Y, e a letra W entrava sempre no lugar do V.

Aí me lembrei de um casal da minha terra que deu aos 12 filhos nomes começados com a letra N: Nelson, Nadir, Neusa... por aí. Apareceu lá, uma família da zona rural que soube disso, e essa família tinha 11 filhos. O homem foi conversar com o outro dos filhos começados com N e falou: “Ah... meus filhos também têm nomes começados por uma letra só, mas não é N. Começam pela letra A”. E foi citando os nomes: “Tonho, Fredo, Nésio, Cida, Tamiro...”.

Na pronúncia dele, nenhum começava com A.

E me lembrei também de um amigo que se casou com uma viúva que tinha um filho chamado Tiago. Tiveram outros dois filhos juntos, e decidiram que meu amigo adotasse oficialmente o Tiago, para que ele tivesse todos os direitos iguais aos dos outros filhos do casal. No cartório, antes de oficializarem a adoção, informaram que além de mudar o sobrenome do menino, podiam mudar também o nome.

Meu amigo quis ser democrático demais e perguntou ao menino se ele queria manter o nome Tiago ou se preferia mudar. Achava que ele não vacilaria em manter o nome. Mas para sua surpresa, o moleque disse que queria se chamar Wilson. Pasmo, ele tentou convencer o Tiago a manter o nome, mas o moleque bateu o pé.

Inconformado, ele me procurou pedindo que tentasse convencer o Tiago a não mudar de nome. “Fácil”, eu disse. Cheguei no Tiago e falei: “Ô Tiago, você já pensou em quando for jovem e arrumar uma namorada? Numa declaração de amor, ela vai falar ‘Tiago, meu amor’. Bonito, né? Mas imagine você se chamando Wilson”.

Que me perdoem os Wilsons meus amigos, mas detonei o nome. Falei pro moleque, exagerando na pronúncia do nome pretendido por ele: “Se você se chamar Wilson, sua namorada vai gostar de falar ‘Wiiilllsssonnn, meu amor’? Não vai falar, vai preferir te dar um fora”.

Ele pensou bem... e desistiu. Ficou sendo Tiago mesmo.

 

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Douglas Matos