Privatização

Após privatização, Salvador tem a gasolina mais cara entre as capitais do país, segundo ANP

Ao contrário do que prometeu o governo Bolsonaro, a privatização da RLAM é um dos fatores para o aumento dos preços

Brasil de Fato | Salvador (BA) |

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Desde que a Acelen, criada pelo fundo Mubadala Capital, dos Emiradores Árabes, assumiu controle da RLAM, a Bahia tem sentido no bolso o aumento dos preços dos combustíveis - Divulgação

Desde o dia 08 deste mês, o povo baiano sente no bolso mais um aumento na conta dos combustíveis. O valor da gasolina subiu em 9,7% e o diesel variou entre 11,3% e 11,5%. Com esse último reajuste, a Bahia tem o combustível mais caro do Brasil. Esse aumento também contribuiu para que Salvador se tornasse a capital com a gasolina mais cara do país. Segundo dados da  ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) divulgados no dia 17, o preço médio do litro do combustível na capital baiana entre 9 a 15 de outubro foi de R$ 5,56.

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Sob controle da Acelen, empresa do fundo árabe Mubadala, a Refinaria de Mataripe, localizada no município de São Francisco do Conde, justifica o aumento como uma tentativa de acompanhar as últimas altas do preço internacional do petróleo. Para o petroleiro Radiovaldo Costa, o estado sofre muito com essa realidade. 

“Esse aumento dos preços que a Bahia vive, hoje, dos principais derivados - como gasolina, diesel e gás de cozinha - são muito perversos para a economia baiana. Primeiro porque ele impacta diretamente o consumidor final. O consumidor na Bahia acaba tendo que comprometer mais do seu salário, do seu benefício, da sua renda para adquirir produtos que são essenciais para o dia a dia e inclusive essenciais para a execução de atividades profissionais”, afirma Radiovaldo ao constatar o impacto de mais um reajuste na rotina da população. 

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Petroleiro há 36 anos, Radiovaldo tem experiência e lugar de fala sobre o assunto. Ele foi diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e, atualmente, é diretor licenciado do Sindipetro Bahia. Ele afirma que além das dificuldades na vida das pessoas, esses aumentos sucessivos também geram outras consequências nocivas para o estado. 

“Isso também causa uma inflação no estado da Bahia seguramente maior do que a inflação nacional. O que gera um grande efeito na cadeia produtiva, na economia baiana, aumentando o preço de produtos e serviços no estado em função do aumento desses derivados que são necessários, são importantes e são estruturantes na economia geral e, em especial, na economia baiana”, declara Radiovaldo. 

Efeitos da privatização

A refinaria de Mataripe (antiga Refinaria Landulpho Alves) foi privatizada no governo do atual presidente, Jair Bolsonaro. Um dos argumentos era que a privatização aumentaria a competitividade e geraria a queda dos preços dos combustíveis. Essa previsão não se cumpriu.

“Na verdade, essa afirmação foi falsa o tempo todo. Principalmente, em relação à Bahia. Como ter competitividade se, no caso da Bahia, você tem apenas uma refinaria que abastece todo o estado? A Refinaria Landulpho Alves não tem nenhum concorrente de peso aqui no estado. Na verdade, a gente criou um monopólio. A gente consolidou um monopólio privado e internacional”, declara Radiovaldo com indignação.

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Didaticamente, Radiovaldo enumera a gravidade dessa política de privatização que, segundo ele, tinha como único propósito o favorecimento do capital internacional em detrimento dos interesses do povo baiano. Radiovaldo afirma que hoje o grupo árabe Mubadala é quem define os preços de combustíveis no estado, em um cenário onde uma única refinaria processa os principais derivados de petróleo e abastece todo o mercado baiano. 

“Não temos alternativas aqui de chegar novos produtos, de outros produtores, de outros refinadores que possam estabelecer essa concorrência com a Mataripe”, explica. 

Ataque à soberania nacional

Na defesa de que essa privatização foi nociva aos interesses do Brasil e da Bahia, Radiovaldo reforça que a Refinaria é um patrimônio construído pelos trabalhadores e trabalhadoras da Petrobrás ao longo de quase 70 anos e que a privatização da RLAM teve como foco o benefício e o favorecimento de acionistas e de investidores da Petrobrás.

“O governo Bolsonaro é um governo que não tem compromisso com a soberania nacional. Não tem compromisso com o patrimônio público, não tem compromisso com os que mais precisam e com aqueles que possuem a renda mais reduzida” declara o petroleiro, que aponta que foram os mais pobres os mais impactados com a venda da Petrobrás. 

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Radiovaldo relembra que quando essa refinaria pertencia a Petrobrás, a política de preço era nacionalizada.  Os preços eram praticados a partir de uma lógica da direção da Petrobrás que adotava isso de modo nacional. “A lógica do governo Bolsonaro é uma lógica de preços baseados na política de preços de paridade internacional que nós nos colocamos contrários entendendo que essa política de preço é perversa com o povo brasileiro, com o país, com a economia nacional”, declara. 

Histórico

A Refinaria Landulpho Alves (RLAM) foi a primeira refinaria nacional de petróleo. Criada em 1950, a Refinaria nasce a partir da descoberta do petróleo no estado e com o sonho de contribuir com o país para tornar o Brasil uma nação independente em energia. Na RLAM são refinados, diariamente, 31 tipos de produtos. Ela atende os estados da Bahia e Sergipe, além de outros estados da região norte e nordeste. Alguns dos seus produtos chegam a ser exportados para países como os Estados Unidos, Argentina e a Europa.  

 

Fonte: BdF Bahia

Edição: Lorena Carneiro