"Não tem uma foto dele comigo." Foi assim que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) reagiu, em uma transmissão ao vivo ao lado de Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato ao governo de São Paulo, a respeito do atentado do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) contra agentes da Polícia Federal que estavam em sua residência para cumprir um mandado de prisão.
As redes sociais trataram de desmentir rapidamente Bolsonaro, mostrando imagens dos dois. Mas não são somente imagens que mostram a ligação entre ambos.
Em 12 de abril de 2021, o próprio presidente da República usou a figura de Roberto Jefferson para dizer que seu governo "não rouba e nem deixa roubar". Um trecho de uma fala do ex-parlamentar foi utilizado em um vídeo que Bolsonaro publicou no Twitter. Confira abaixo.
- Nos momentos difíceis deve-se unir forças, nunca ofender exatamente aquele que pode ser decisivo nesse salvamento.
— Jair M. Bolsonaro 2️⃣2️⃣ (@jairbolsonaro) April 12, 2021
- Se a facada tivesse sido fatal, hoje você teria como Presidente Haddad ou Ciro. Sua liberdade, certamente, não mais existiria.
(Segue) pic.twitter.com/Y2sHPjfWTs
"Ele é representante do povo, ele é o chefe do Estado, ele é o chefe do governo e ele tem honrado o que ele disse na campanha: eu não vou roubar e não vou deixar roubar", diz Jefferson, condenado a sete anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A postagem de Bolsonaro foi destaque à época no Congresso em Foco e Valor Econômico.
Roberto Jefferson, Padre Kelmon e Bolsonaro
Padre Kelmon, candidato do PTB à Presidência da República, viabilizou a candidatura por conta da vontade de Jefferson, e foi um aliado incondicional de Bolsonaro na campanha. No debate da Globo do primeiro turno, serviu como linha auxiliar explícita do bolsonarismo ao tentar provocar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e trazer pautas de cunho moral.
Kelmon era vice de Jefferson e nunca escondeu que sua tentativa de candidatura presidencial pelo PTB seria uma forma de ajudar Bolsonaro.
"Quando as pessoas compreenderem o que o Roberto [Jefferson] está buscando fazer, em apoio ao presidente Bolsonaro, para que ele possa expor aquilo que o Bolsonaro não pode sem que seja perseguido. O Roberto já é preso, o que mais vão fazer? Não tem mais o que o Alexandre [de Moraes] fazer contra ele", disse o deputado federal Daniel Silveira, na oficialização da candidatura de Jefferson, em agosto.
Aliança Jefferson-Bolsonaro começou em 2020
Desde 2020, Jefferson atuou para reestruturar o PTB, partido que comanda a mãos de ferro, impedindo alianças regionais da legenda com eventuais adversários do presidente. O objetivo de Jefferson era atrair Bolsonaro a disputar o pleito pelo seu partido. Bolsonaro acabou escolhendo o PL, mas manteve contato com o PTB, que apoia sua reeleição.
Jefferson foi um dos mais radicais apoiadores do discurso "antissistema" de Jair Bolsonaro. O petebista protagonizou diversos ataques à Justiça brasileira, no momento em que Bolsonaro estava em uma queda de braço explícita com os ministros do STF, que buscavam tolher a distribuição em massa de fake news e de ataques bolsonaristas a instituições democráticas.
O presidente do PTB se tornou alvo de um inquérito por ter defendido o fechamento do STF, a cassação dos membros da Corte e por ter incentivado a violência contra os magistrados com base em divergências relacionadas ao teor de decisões tomadas por eles. Jefferson também chegou a dizer que não haveria eleições em 2022, caso o voto impresso não fosse implementado, seguindo as falas de Bolsonaro.
Um dia após a prisão de Roberto Jefferson, em agosto de 2021, Bolsonaro anunciou que pediria o impeachment dos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do STF. "De há muito, os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, extrapolam com atos os limites constitucionais”, publicou Bolsonaro à época, em defesa de Jefferson.
Edição: Lucas Weber