Em 12 de outubro, na cidade de Aparecida, onde milhares de devotos de Nossa Senhora participam das homenagens à Padroeira do Brasil, apoiadores do presidente Bolsonaro, que esteve presente na missa, agrediram jornalistas e até pessoas que usavam roupas vermelhas e xingaram o padre Camilo Junior, que celebrava a missa das 14h.
Ao final, o padre afirmou que o “o momento não era de pedir de voto", mas de "pedir bênção" à Santa. A declaração ocorreu na cerimônia de consagração solene a Nossa Senhora Aparecida. Seguidores do presidente interromperam o momento com vaias, palavras de ordem e tentaram puxar o coro de “mito”, o que não teve adesão de outras pessoas presentes. O padre pediu silêncio e rogou aos fiéis que preparassem o “coração, viemos aqui para rezar”.
Outros casos semelhantes de agressão a religiosos e invasão de igrejas e templos têm acontecido por todo o Brasil, assim como também fiéis relatando e denunciando pressão de pastores e lideranças religiosas para votarem em determinado candidato. Para falar sobre este momento, o Brasil de Fato Paraná ouviu religiosos.
Igreja para os mais pobres
Para o padre e professor Joaquim Parron, da Igreja Católica Nossa Senhora Aparecida, da Vila Torres, em Curitiba, religião e política podem andar juntas sem o “cabresto” para angariar votos.
“A religião e a fé podem dar valores para despertar a participação política na sociedade, mas nunca deveria ser usada para escolher candidato A ou B. Jesus falava da importância da justiça para os mais pobres, e isso pode motivar pessoas a se engajarem em projetos políticos para ajudar essa população mais vulnerável”, comenta.
Seguir Cristo
O pastor evangélico Mike Vieira lembra que a religião representa o acolhimento, e não poder. “Jesus se fez presente nos lugares onde se encontravam aqueles que não tinham lugar, os deslocados, os socialmente rejeitados e os convidou a caminhar para um novo caminho, que trazia amor e esperança. O Evangelho que pregamos e o Jesus que seguimos jamais precisaria de cargos de poder para propagar sua palavra. Ao contrário, Ele teve suas preferências entre os mais pobres e excluídos, vítimas daqueles que se faziam donos dos lugares”, explica.
Diálogo com quem pensa diferente
Já para o Padre Lionel, missionário congoniano, é muito perigoso deixar crescer a instrumentalização da religião para fins políticos. “A história das religiões nos mostra que cada vez que as religiões foram instrumentalizadas para outros fins, nunca deu certo, porque isso não conduz com a sua natureza de amor, misericórdia e diálogo”, afirma.
Para ele, “como cristãos é preciso ter o cuidado para não ir contra o Evangelho, ele prega o diálogo com quem pensa diferente de nós”, conclui.
“Adorar mitos”
Analisando a eleição de 2022, na opinião dos entrevistados, a religião vem sendo usada de forma indevida por políticos. “O que se percebe nessa campanha eleitoral é o uso sujo da religião principalmente por um candidato, que se diz religioso, mas que na prática nada tem de religioso. Muitas pessoas estão deixando de participar de cultos que deixaram de adorar a Deus para adorar supostos ‘mitos'. Para esse candidato, seria importante dizer o que disse Jesus: ‘Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.’ Ou seja, nas celebrações religiosas devem adorar o Deus verdadeiro, e não um candidato", diz o padre Parron.
O Pastor Mike faz uma crítica a setores da Igreja Evangélica que começaram a se preocupar com o poder. “Existe um movimento mundial de vários setores do campo evangélico para que o estado possa ser um Estado Teocrático. Temos inúmeros exemplos de países onde as leis são baseadas em livros sagrados. O Brasil segue o mesmo caminho, tentando incluir leis bíblicas do velho testamento em suas leis. A Bíblia Sagrada tem sido utilizada para dar golpes em países democráticos usando senhas como: ‘Deus, família, lei e ordem, corrupção, pátria’ levando o país para um retrocesso atacando nosso Estado Democrático de Direito”, cita.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini