Opinião

Região Sul lidera tentativas de coações eleitorais pró-Bolsonaro no segundo turno

Empresários do Sul tentaram, em 122 casos, obrigar trabalhadores a votarem em Bolsonaro até esta semana

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
"Esta é uma das maiores ameaças à democracia brasileira que, em 1996, deu um salto para o futuro com a utilização de urnas eletrônicas, garantindo o segredo do voto" - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Voto cabresto, curral eleitoral, coronelismo são expressões que eram comuns nas eleições que ocorriam durante a chamada Primeira República, no início do século XX. Naquela época, os coronéis honorários que existiam desde o Império, grandes senhores de terra, obrigavam seus empregados e agregados a votarem em seus candidatos preferidos. As seções eleitorais eram quase que fiscalizadas pelos jagunços do coronel, que ameaçavam até de morte quem não lhes obedecia. Sua expressão máxima se dava no Nordeste, entre os grandes produtores de açúcar.

Esta situação deveria ter terminado com a revolução da 1930, quando foi instituído o voto secreto. Porém persiste até os dias de hoje somente mudando de localização. Na atualidade, as tentativas de voto cabresto acontecem principalmente na região Sul. Até esta semana foram registrados 122 casos de empresários sulinos que tentavam obrigar os trabalhadores de suas empresas a votarem em Bolsonaro. No Brasil inteiro houve 294 ocorrências deste tipo.

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Na região Sudeste, os jagunços dos coronéis foram substituídos pelos milicianos, fortemente armados que, além de venderem segurança para as comunidades, tentam obrigar os moradores das regiões sob sua proteção a votar em seu candidato. A fonte principal dos registros tem sido o Ministério Público do Trabalho, que agora começará a agir em conjunto com o Ministério Público Eleitoral.

Os trabalhadores, através de seus sindicatos e federações realizam as denúncias. Mas a maioria sofre calado a coação dos patrões com o medo de perder o emprego e o sustento de suas famílias. Além da violência das ameaças, os “coronéis” atuais utilizam-se de outros expedientes, como o de prometer bônus de gratificação para quem votar em seu candidato.

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Outro tipo de voto que apareceu nos últimos anos é o “voto cajado”, quando pastores ou líderes religiosos exigem de seus fiéis que votem neste ou naquele candidato. Com ele, foi formada a “Bancada da Bíblia”, contrariando a liberdade religiosa que só é garantida pelo fato de vivermos num Estado laico.

Esta tem sido a principal causa da exigência do tal “voto impresso” por setores políticos. Desta forma eles poderiam comprovar o voto de seus tutelados. Esta é uma das maiores ameaças à democracia brasileira que, em 1996, deu um salto para o futuro com a utilização de urnas eletrônicas, garantindo o segredo do voto.

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Ainda nos anos 1980, eu fui testemunha de uma tentativa deste tipo de coação. Durante uma entrevista de emprego num grande jornal de circulação nacional, fui interpelado pelo entrevistador em quem eu tinha votado na eleição daquele ano. Respondi com o dever de sigilo do voto e, por isso mesmo, fiquei somente por dois meses na empresa.

Este terrível costume de controlar os seus “colaboradores” persiste até hoje, constrangendo a consciência das pessoas que precisam trabalhar, mas entendem que podem, protegidos pelo sigilo do voto, modificar a situação de suas vidas. Denuncie qualquer tentativa neste sentido.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko