Das 120 candidaturas ligadas ao movimento negro e apoiadas pela campanha “Quilombo nos parlamentos”, iniciativa da Coalizão Negra por Direitos, 26 foram eleitas no pleito de 2022. Oito ocuparão cadeiras na Câmara dos Deputados e 18 em assembleias legislativas nos estados da Bahia, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo. Juntos, os candidatos eleitos receberam cerca de quatro milhões de votos.
Os deputados federais são Valmir Assunção (PT-BA), Dandara Tonantzin (PT-MG), Carol Dartora (PT-PR), Benedita da Silva (PT-RJ), Henrique Vieira (PSOL-RJ), Talíria Petrone (PSOL-RJ), Denise Pessôa (PT-RS) e Erika Hilton (PSOL). Esta última, a segunda mais votada do PSOL em São Paulo, será a primeira mulher negra trans a ocupar uma cadeira no Congresso Nacional.
“No estado do Rio de Janeiro inteiro, pessoas apaixonadas foram para a rua combater o fundamentalismo, combater o racismo, celebrar a diversidade e abrir uma janela de futuro”, afirmou Vieira em sua rede social. Brasília terá, disse, “um pastor preto, artista, de esquerda, como fruto de um projeto coletivo”.
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Outros candidatos atuantes no movimento negro, como Douglas Belchior e Tamires Sampaio, ambos postulantes ao legislativo federal pelo PT paulista, não conseguiram votos suficientes.
Entre os deputados estaduais eleitos, está Renato Freitas (PT-PR) que chegou a sofrer ameaças de morte e acusação de quebra de decoro durante seu mandato como vereador, por ter participado de um ato em protesto às mortes de Moïse Kabagambe e Durval Teófilo Filho.
Com 92 mil votos, Olívia Santana (PCdoB), que foi a primeira deputada estadual negra da Bahia, foi reeleita e vai agora para seu segundo mandato. Na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), localizada na cidade mais negra fora da África, Olívia será - de novo – a única parlamentar negra.
“Nós somos seres coletivos. E é como seres coletivos que vamos adentrar o parlamento”, afirmou, no lançamento do “Quilombo nos parlamentos”, a secretária executiva do Conselho do Povo de Terreiro do Rio Grande do Sul, Iyá Sandrali.
“Projeto do movimento negro para o Brasil”
Com o objetivo de reduzir a hegemonia branca no poder legislativo, eleger lideranças do movimento negro e “contribuir para um projeto de país alinhado à luta contra o racismo”, a iniciativa apoiou 120 candidaturas em 24 estados brasileiros. Elas foram indicadas por algumas das 250 entidades que compõem a Coalizão.
A estratégia de ampliar a presença de ativistas do movimento no aparato estatal começou em 2020 e, em 2022, acontece pela primeira vez em eleições gerais. As ações envolveram apoio com comunicação e a busca de recursos para as candidaturas, que foram do PT, PSOL, PSB, PCdoB, Rede, PDT, Unidade Popular (UP) e PV.
“Não se trata de lutar por um projeto de Brasil para os negros, e sim por um projeto do movimento negro para todo o Brasil. Essa luta não é só a mais antiga deste país: é a mãe de todas as lutas contra a desigualdade e as injustiças sociais”, explica manifesto do “Quilombo nos parlamentos”.
“Nós, enquanto movimento, exercemos um papel importante de monitoramento social e de construção de política pública”, diz Antônio Crioulo, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), em texto em que a organização apoia as candidaturas vindas destas comunidades tradicionais.
“Mas o espaço de representatividade com a caneta implementa esta vontade nos processos de construção de política e de monitoramento”, conclui.
Do total de 14.712 candidatos autodeclarados pretos ou pardos nesta eleição de 2022, 525 foram eleitos no último domingo. Esse número representa um aumento de 10,78% em relação a 2018.
Edição: Rodrigo Durão Coelho