O estado do Rio de Janeiro reelegeu o atual governador Cláudio Castro (PL), no último domingo (2). Ao contrário do que indicavam as pesquisas de intenção de voto, que previram uma disputa de segundo turno com um cenário favorável para o primeiro colocado, Castro foi eleito com 58% dos votos. Ele teve melhor desempenho que o segundo colocado, Marcelo Freixo (PSB), nos municípios da Baixada Flluminense e em todo o interior do estado.
O cientista político e pesquisador do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB) Júlio Canello explica em entrevista ao programa Central do Brasil, uma parceria do Brasil de Fato com a rede TVT, que os grupos críticos às pesquisas sem nenhum argumento técnico podem aproveitar os resultados destoantes deste ano para desmerecer o trabalho dos institutos.
“A gente tem presenciado no debate público de segmentos mais à direita o desmerecimento das pesquisas que acaba possivelmente repercutindo em quando esse eleitorado é procurado pelos institutos e como ele se comporta, no sentido de responder ou não a pesquisa”, diz.
Para Júlio, os institutos de pesquisas precisam rever a metodologia utilizada para que as amostragens realmente tragam uma representação do eleitorado de direita.
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“Muitos institutos trabalham com pesquisas presenciais, por cota, em pontos de fluxo e isso cria um viés na representação dessas amostras em favor daquela população que transita nas ruas, que está disposta a responder as pesquisas e acaba subestimando o tamanho de alguns segmentos do eleitorado”, explica Canello.
João Feres Júnior, cientista político do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj), analisa que a vitória de Cláudio Castro se deu por alguns fatores, como a influência das igrejas no estado e a falta de articulação do Freixo com a população de locais mais pobres.
“As pessoas mais pobres que moram nas periferias, moram nas áreas mais violentas, mais próximas do tráfico, da violência policial, estão suscetíveis a violência diariamente e você combina isso com a penetração das igrejas evangélicas que no Rio de Janeiro é enorme, é bombástico. Muitas vezes os trabalhadores que moram em áreas pobres são os primeiros a serem seduzidos por esse discurso que tem que matar bandido”, explica Feres.
Já Mayra Goulart, professora de Ciências Políticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observa que por Castro ter pouco tempo de gestão, ao assumir o cargo após o impeachment de Wilson Witzel (PMB), ele era pouco conhecido e possuía recursos suficientes para ampliar suas intenções de voto.
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“Quando ele privatiza a Cedae e usa esse dinheiro para estreitar os laços com as elites políticas locais, prefeitos, vereadores, deputados estaduais e outras lideranças políticas nas localidades como os evangélicos, ele consegue tecido para enraizar sua campanha e capilarizar muito positivo”, conta Mayra.
Para ela, Marcelo Freixo foi um candidato oposto a Castro. “Ele é um candidato de opinião que não tem aliança com lideranças políticas locais. Ele só tem viabilidade em segmentos que estão circulando nestes espaços da opinião pública”.
Segurança Pública
Cláudio Castro é conhecido por defender intervenções policiais nas favelas e periferias do estado. Sua gestão tem três das cinco operações mais letais do Rio. Segundo João Feres Júnior, a tendência é que ele mantenha essa política agressiva nos territórios.
“Existe um acordo político com territórios dominados pela milícia e ao mesmo tempo uma concepção de polícia punitiva que pauta suas ações pela violência e isso é péssimo. O Rio de Janeiro sofre desse problema historicamente e tende a continuar ruim. Dependendo da situação econômica do país pode piorar ainda mais”, comenta.
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Mayra Goulart diz que a vitória de Castro é uma péssima notícia para o desenvolvimento da segurança pública no Rio, principalmente para as pessoas que moram em regiões mais pobres.
“A única coisa que eu posso dizer é pra eles permanecerem na luta, permaneçam engajados e mobilizados para denunciar a violência e possam se articular da melhor maneira possível para conseguir contar com o apoio do governo federal em caso de vitória do Lula. A vitória do Castro é uma derrota para essa população”, lamenta.
Impacto Nacional
Já em um cenário nacional, a cientista avalia que o fato de Cláudio Castro ser do mesmo partido que o atual presidente e candidato à Presidência, Jair Bolsonaro (PL), cria mais força política para a campanha de Bolsonaro no estado.
“É muito ruim que Bolsonaro tenha um palanque para o segundo turno no Rio de Janeiro que é um espaço predominantemente evangélico que, portanto, pode aumentar ainda mais a margem de votação no Bolsonaro”, explica.
Feres pondera que apesar de Castro e Bolsonaro serem do mesmo partido, o atual governador é um articulador político e não deve se colocar como oposição caso o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença as eleições presidenciais.
“Cláudio Castro no seu mandato não entrou em grandes conflitos com a esquerda. Ele se mostrou um pragmático. Se o Lula ganha a eleição para presidente, eu acho que ele [Castro] não vai ter intenção nenhuma de radicalizar e fazer um governo bolsonarista de oposição”, finaliza.
Edição: Mariana Pitasse