Coluna

Os bons ventos de 2002, vinte anos depois

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É fundamental que a eleição presidencial termine dia 02 de outubro e as razões para que isso ocorra são muito relevantes e extrapolam qualquer vaidade pessoal
É fundamental que a eleição presidencial termine dia 02 de outubro e as razões para que isso ocorra são muito relevantes e extrapolam qualquer vaidade pessoal - Reprodução
Na eleição de 2022, a única opção viável é derrotar a barbárie

Aos mais novos, conto a experiência do meu primeiro voto em Lula no ano de 2002. Tinha acabado de ingressar em uma universidade pública, aos 18 anos. O que remetia a um alívio, vinha também com receio. Mais um governo com políticas educacionais neoliberais impactaria, em larga medida, a estrutura e a qualidade das universidades. Falavam até em cobrança de mensalidade. Aquele voto e a eleição de 2002 significou a exorcização daqueles fantasmas privatizantes e a certeza que me formaria.

No dia da votação, botei um broche com a estrela vermelha no peito e fui para a cabine. Na época, era possível estar acompanhado. Apertei o 13 e meu irmão, Roberto, que não tinha idade para votar, apertou o botão de confirma. Após o resultado, o clima dos dias seguintes na cidade universitária de Viçosa, era de alívio e esperança com o primeiro governo eleito do Partido dos Trabalhadores.

As gestões petistas no Executivo apontaram virtudes e os limites da democracia liberal envoltas em contradições inerentes ao processo histórico. Não votamos em um herói, mas alguém que conseguiu sintetizar o acúmulo de forças do povo trabalhador brasileiro naquele período.

Em 2002, Lula não foi eleito em primeiro turno. Por outro lado, seu oponente não era o maior símbolo de retrocesso civilizatório que poderíamos ter, como acontece em 2022.

Às pessoas que nunca votaram em Lula, em 2022, não se trata de escolher o projeto que mais lhe interessa, mas expurgar as chagas causadas pelo bolsonarismo do Estado brasileiro. É fundamental que a eleição presidencial termine dia 02 de outubro. As razões para que isso ocorra em primeiro turno são muito relevantes e extrapolam qualquer vaidade pessoal. Vejamos:

Se alguma das candidaturas de Tebet ou de Ciro conseguirem o dobro de votos do que possuem atualmente, quem irá ao segundo turno é Bolsonaro. Se conseguirem o triplo, quem irá ao segundo turno também é Bolsonaro. As pesquisas mostram que o crescimento dessas candidaturas não ocorrerão em poucos dias, logo o voto nelas, só garantiria Bolsonaro no segundo turno.

O bolsonarismo é alimentado pela violência política, discursos de ódio e fake news, como foi demonstrado nos últimos 4 anos e se intensifica nesse momento eleitoral. Mais um mês de campanha presidencial possibilitará mais violência, crimes políticos e tensão social. Cada vida é preciosa e este desgaste na sociedade pode ser evitado se elegermos Lula no primeiro turno.

Em um eventual segundo turno, o programa democrático-popular apresentado terá que fazer mais concessões e arranjos às forças conservadoras que controlam, sobretudo, o Congresso Nacional. A vitória em primeiro turno garantirá uma maior contundência nas pautas políticas democráticas a serem implementadas.

Não basta derrotar Bolsonaro para derrotar o bolsonarismo. Ele se manterá na sociedade, independente do resultado. A vitória de Lula em primeiro turno, permitirá que ele e a sua campanha centrem força em derrotar o bolsonarismo, nos estados que sustentarão as campanhas em segundo turno, e tudo o que ele representa na sociedade. Vencê-los nas eleições é enfraquecer a semente do fascismo, semeada nos últimos anos, também no seio da sociedade civil. 

Voltando ao ano de 2002, nunca me arrependi daquele voto. Vinte anos depois, estamos aqui, votando em Lula novamente, porque somos brasileiros e não desistimos nunca. Que nas próximas eleições, outras candidaturas tenham oportunidade de apresentarem seus projetos e possamos escolher a que preferirmos dentro de um marco civilizatório. Na eleição de 2022, a única opção viável é derrotar a barbárie. Hoje, não é só o Roberto, tem muito mais gente apertando o 13 e confirmando que o povo tem o direito de voltar a sonhar, sem medo de ser feliz. Pois, mais uma vez, seguimos aqui insistindo nessa incrível mania de ter fé na vida.

*Gladstone Leonel Júnior é Professor Adjunto da Faculdade de Direito e do Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense. Doutor e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Brasília. Realizou o estágio doutoral na Facultat de Dret, Universitat de Valencia, Espanha. Membro da Secretaria Nacional do IPDMS – Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais. Leia outros textos.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo