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Só acaba quando termina

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Na reta final da campanha as notícias são boas: Bolsonaro estagnou e Lula voltou a subir - Ricardo Stuckert e Isac Nóbrega/PR
A coincidência nos resultados não mente: tudo pode se resolver no primeiro turno

Olá! Na reta final da campanha as notícias são boas: Bolsonaro estagnou e Lula voltou a subir. Mas é melhor moderar o otimismo e encarar o caminho que falta até a vitória.

 

.Numerologia. Faltando pouco mais de uma semana para o primeiro turno, o que as pesquisas apontam? Todas elas, BTG/FSBIpec, PoderData, Genial/Quaest, Opinião e DataFolha mostram Bolsonaro estagnado e Lula com um pequeno aumento nas intenções de votos. Mesmo que as variações encontrem-se dentro da margem de erro, a coincidência nos resultados não mente: tudo pode se resolver no primeiro turno. O que explica este quadro? Em primeiro lugar, o crescimento do favoritismo de Lula entre os mais pobres, aqueles que ganham até 2 salários mínimos mensais. Além disso, segundo Arilton Freres, diretor do Instituto Opinião, o fator cansaço da disputa política pode estar levando o eleitorado a optar pelo voto útil, abandonando as candidaturas nanicas, especialmente trocando Ciro Gomes por Lula. A candidatura do petista ainda carrega uma desvantagem que pode virar trunfo no dia dois de outubro: é que uma parte dos eleitores lulistas estão com medo de expressar sua posição, enquanto outra vai dar um voto envergonhado em Lula. Ou seja, seus votos podem estar subdimensionados nas pesquisas. O outro lado da equação é a estagnação de Bolsonaro. As pesquisas indicam que de nada adiantaram as sucessivas reduções do preço do diesel ou dos preços de armas importadas para caçadores. Isso porque, como sintetiza Miriam Leitão, o eleitor sabe que as medidas econômicas foram eleitoreiras e já está decidido em quem votar. A economia é também um dos fatores, junto com o desastre da gestão da pandemia, que levou à rejeição consolidada de Bolsonaro entre as mulheres. Por fim, observa Felipe Nunes, diretor da Quaest, a adesão dos evangélicos tem se mostrado menor do que a esperada. Um desempenho tão pífio a poucos dias das eleições pode ser desastroso se houver um efeito manada. E os sinais estão aí: não é que o centrão já anda flertando com o vizinho e até Edir Macedo está juntando os papéis para consumar o divórcio do capitão? 

.O caminho da vitória. Mesmo com a possibilidade real de uma vitória no primeiro turno, nem tudo são flores para a candidatura petista. O desafio agora é criar um clima de otimismo, distensionando o clima político e animando a militância, mas sem cair na armadilha do “já ganhou”. Afinal, um otimismo exagerado pode alimentar um sentimento de derrota caso a eleição não se resolva no dia dois de outubro. É claro que, com uma vitória tão próxima, a estratégia petista deve se basear na lógica do voto útil. E aqui está outro dilema. Afinal, conforme aponta o cientista político Antonio Lavareda, ao tentar aproximar-se dos eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet, Lula também pode se tornar mais vulnerável às suas críticas e ataques. A maior dificuldade até agora tem sido a postura intransigente de Ciro Gomes de barrar qualquer aproximação, o que, aliás, pode lhe custar o próprio partido (PDT). O caminho alternativo de Lula é correr por fora, angariando apoios de figuras públicas e lideranças de bastidores. A aproximação do PSDB deu algum resultado, pois mesmo sem um apoio explícito, o ex-presidente FHC mostra concordância com as pautas da candidatura petista. Ao mesmo tempo, Lula busca quebrar de vez a resistência do alto PIB. O apoio de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central durante os dois mandatos anteriores do petista, foi recebido positivamente pelo setor financeiro. Mais dura, no entanto, tem sido a posição do agronegócio, majoritariamente fechado com Bolsonaro até o momento, para o qual Lula e Alckmin sinalizam com o direito de defesa armada da propriedade no campo. Em ambos os casos, os imperativos eleitorais antecipam embates que devem ocorrer num possível governo Lula, opondo por exemplo a defesa da recuperação do salário mínimo e do combate à fome à austeridade financeira ou a defesa da reforma agrária e dos pequenos produtores aos interesses do agronegócio.

.Tchau, Tinky Winky. Não era preciso que Bolsonaro fosse a Londres ou Nova York para sabermos que seu mundo não passa do cercadinho. Mais do que incapacidade intelectual, o discurso para seus fiéis seguidores nas suas últimas viagens internacionais repetiu a estratégia do sete setembro, ou seja, usar os compromissos do governante para fazer campanha. As ameaças golpistas baseadas num cenário surreal em que venceria no primeiro turno não vêm apenas do capitão, mas também de seus subordinados, como Fábio Faria que prometeu fechar institutos de pesquisas depois das eleições. A resposta veio do até então aliado Arthur Lira, que agora ameaça sutilmente os institutos que manipulam pesquisas favoráveis ao capitão. Apesar da aparente insanidade, a escalada do discurso bolsonarista tem seus motivos. O primeiro, é claro, é a possibilidade iminente de uma derrota acachapante nas urnas. Mas há outra razão: Bolsonaro tem repetido que não será uma Jeanine Añez, a ex-deputada condenada há 10 anos de prisão pelo golpe na Bolívia. Ou seja, mais do que o medo de perder a eleição, seu medo é o da prisão. No pânico, vale tudo na campanha: violar a lei eleitoral com outdoors, comprar resultados do inconfiável Paraná Pesquisas ou falsificar resultados de pesquisas com vídeos de fake news. O desespero também pode indicar que o bolsonarismo ainda aposte em criar algum caos na reta final ou talvez esta seja simplesmente a forma peculiar do capitão dar tchau. Seja como for, com ou sem Bolsonaro, é possível que o bolsonarismo sobreviva à eleição de outubro. Afinal, em pelo menos dezenove estados são os partidos conservadores que lideram as pesquisas para governador, e sete deles são apoiados por Bolsonaro.

 

.Ponto Final: nossas recomendações.

.‘Não dá para contar a história de Bolsonaro sem contar a da imprensa’. No livro “Ao Brasil, com amor”, os jornalistas Jamil Chade e Juliana Monteiro recuperam o papel dos meios de comunicação no bolsonarismo.

.‘A Fantástica Fábrica de Golpes’ será disponibilizado no YouTube por 72 horas. Não deixe de assistir ao documentário que registra o papel das fake news e da manipulação midiática na tradição golpista brasileira e latino-americana.

.‘Vai ter guerra’: após morte suspeita de liderança, guardiões Ka’apor se unem contra garimpo ilegal. No Repórter Brasil, como os Ka’apor se preparam para enfrentar mineradoras internacionais e o garimpo ilegal.

.Ameaça de morte e colete à prova de balas: a campanha da bancada trans. Na Piauí, como as candidatas trans enfrentam a violência e o preconceito para naturalizar sua presença na política.

.Nova Resistência: como militantes de extrema direita se infiltraram no PDT. No UOL, como Ciro Gomes e Aldo Rebelo abriram as portas para anti semitas e LGBTfóbicos no PDT.

.Sociólogo explica reforma trabalhista na Espanha: ‘reverteu o que o Brasil implementou’. Clemente Ganz explica porque não há novidade nas mudanças no mundo do Trabalho e como a Espanha enfrentou a precarização.

.Segurança Pública: tecnologias e atividade policial na ponta da língua dos presidenciáveis. O Diplomatique Brasil analisa as propostas e limites dos presidenciáveis para a segurança pública.

.O escandaloso glamour da dominação colonial. No Outras Palavras, Chris Hedges se pergunta para que serve a realeza britânica além de cortina de fumaça para o imperialismo?

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Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

 

 

Edição: Vivian Virissimo