SAÚDE

Setembro Amarelo: Crise é "uma mola propulsora para situações de adoecimento", diz psicóloga

Especialista explica funcionamento dos dispositivos e políticas para a prevenção ao suicídio e elenca desafios do setor

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Atenção básica tem um papel muito importante no acolhimento de pessoas com questões relacionadas à saúde mental
Atenção básica tem um papel muito importante no acolhimento de pessoas com questões relacionadas à saúde mental - Nick S CC BY-SA

Após o grande impacto durante a pandemia, muitos são os alertas sobre as condições de saúde mental da população. Os impactos das crises política, social e econômica, agravadas com esse processo, também interferem diretamente nesta área da vida.

Setembro é um mês dedicado à pauta da prevenção ao suicídio e nós conversamos sobre o assunto com Magda Figueiroa, que é psicóloga, atua em um Centro de Atenção Psicossocial e no Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano, no Recife. Assista ou leia na íntegra:

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Brasil de Fato Pernambuco: Magda, estamos vindo de um histórico de crises e passamos por uma pandemia. Quais os impactos dessa conjuntura na nossa saúde mental?

Magda Figueiroa: Como trabalhadora do SUS, estamos sentindo o sistema ser atingido fortemente pelas últimas reformas, principalmente pela conhecida PEC da Morte, que congela os gastos em políticas públicas por vinte anos desde o golpe que sofremos em 2016. E isso vem atingindo a saúde mental fortemente com a falta de investimentos em serviços e programas de prevenção e acolhimento às pessoas em situação de problemas com a saúde mental e as pessoas que têm problemas com o uso abusivo de drogas, isso tem acontecido. Por outro lado, vemos o agravamento da crise econômica como uma mola propulsora para situações de adoecimento.

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BdF PE: Quais são os principais serviços disponíveis no SUS?

Magda Figueiroa: O SUS tem uma série de dispositivos, propõe a RAPS, que é a Rede de Atenção Psicossocial, que inicia na Atenção Básica e vai até os serviços especializados que são os CAPS, os hospitais com leitos integrais, diante das necessidades. A porta de entrada deve ser a atenção básica, que deve ter um atendimento acolhedor.

O próprio posto de atenção básica é um serviço que tem sido bem atingido, mas existe em muitas cidades, que é o NASF, que é o Núcleo de Apoio à Saúde da Família que tem profissionais de saúde mental na sua equipe e tem os CAPS também, CAPS infantil e CAPS para adolescentes.

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BdF PE:: Estamos no Setembro Amarelo, que é um mês que tem um calendário de luta pela prevenção de casos de suicídio. Temos política pública voltada para essa questão específica?

Magda Figueiroa: A atenção básica tem um papel muito importante no acolhimento dessas demandas de depressão, vulnerabilidade, entristecimento de percepções avançadas até sobre esse sofrimento mental antes de chegar à situação do suicídio e de vigilância quando esses casos acontecem, através de uma emergência e que devem ser encaminhados para a Atenção Básica acompanhar. Temos um dispositivo na Atenção Básica, como eu falei, que é o NASF, mas que esse dispositivo nas últimas políticas foi desconsiderado, em termos de financiamento. Então, em algumas cidades ainda se mantém, mas não foi financiado pelo Ministério da Saúde.

Vemos a questão do suicídio crescendo muito [entre] os adolescentes e onde o adolescente passa mais tempo em sua vida? Dentro da escola. Temos uma lei que determina que todas as escolas tenham psicólogos e assistentes sociais, mas é uma lei que não está sendo ainda obedecida. Tem pelas escolas públicas. Então, a presença de um assistente social e um psicólogo pode direcionar, perceber e chegar junto desses adolescentes antes que eles possam pensar nisso.

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BdF PE:: Estamos em ano de eleições, qual a expectativa das trabalhadoras e trabalhadores da Saúde Mental para o diálogo com o Governo Federal e quais pautas vocês irão reivindicar?

Magda Figueiroa: Sabemos que a Reforma Psiquiátrica foi pautada e reivindicada pelos trabalhadores do SUS, associada à Reforma Sanitária. Então, o que se espera como trabalhadoras e trabalhadores do SUS é que esses valores sejam resgatados e que se dê um basta nos retrocessos, que estão sendo pautados nas políticas, da volta dos manicômios e dos hospitais, o descredenciamento de espaços como o NASF, a falta de apoio aos serviços psicossociais e o sucateamento das políticas públicas de uma forma geral.

Sabemos também que na saúde mental se envolve além da saúde restrita ao Ministério da Saúde, mas também de políticas públicas ligadas à assistência social, à moradia, à trabalho, à renda, à educação. Então, que sejam políticas voltadas para a promoção das pessoas de forma inteira e de proteção às mais vulnerabilizadas.

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Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga