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Álbum de figurinhas

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Ouça o áudio:

Cheguei quando a minha mãe passava roupa com um ferro a brasa, pesado, tendo que assoprar toda hora - Wikimedia Commons
Os álbuns de figurinhas são coisa antiga. E não são só de futebol

Vem aí a Copa do Mundo de futebol, e com ela o álbum de figurinhas.

Pela lei, tem que ter um número igual de figurinhas para todos os jogadores, não pode ter figurinha difícil para encher o álbum.

Mas a empresa que produz o álbum e as figurinhas arrumou um jeito de driblar a lei: produziu um número pequeno de figurinhas que não podem ser coladas no álbum, são para colecionadores.

E tem gente pedindo uma fortuna por uma figurinha dessas, especialmente do Neymar. Certo... se alguém quer jogar dinheiro fora, problema dele.

Mas os álbuns de figurinhas são coisa antiga. E não são só de futebol. Eu me lembro de um em que cada página era destinada a um estado brasileiro, com figurinhas mostrando a bandeira do estado, o mapa, foto da capital, roupa típica, principal atividade econômica...

E os álbuns de futebol, acho que traziam os principais times de São Paulo e do Rio de Janeiro. As figurinhas vinham enroladas em balas compridas e finas, eram três em cada pacotinho. Tinha as figurinhas carimbadas, de alguns craques. Eram poucas, difíceis. Até hoje a gente usa a expressão “figurinha carimbada” para falar de alguém importante ou diferente.

E mais: tinha também figurinhas assinadas, mais difíceis ainda. Num campeonato, lá por volta de 1960, só tinha três figurinhas assinadas: Pelé, Garrincha e Didi.

Quem conseguisse preencher o álbum trocava por uma bicicleta. Muito pouca gente conseguia. Ah... tinha também as figurinhas premiadas.

Em vez da foto e do nome do jogador, vinha a informação, com o desenho do prêmio: “Troque por uma bola de futebol”, por exemplo.

Numa dessas, comprei um pacotinho e abri torcendo pra vir uma figurinha carimbada. Não veio... mas veio melhor ainda: premiada com um ferro elétrico, entregue na hora. Era um ferro do tipo mais simples, mas valia a pena: nós não tínhamos isso.

Levei pra casa vibrando, e cheguei quando a minha mãe passava roupa com um ferro a brasa, pesado, tendo que assoprar toda hora.

Falei pra ela: “Ô, mãe! É trabalho demais passar roupa com esse ferro. Por que a senhora não para com isso?”. Ela me olhou com cara de quem pensava que eu tinha ficado louco de vez. Eu já tinha fama de meio doido. Me olhou, me olhou... e aí mostrei o ferro elétrico para ela.

Foi a maior festa!

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Rodrigo Gomes