Oi, gente, cheguei!

Podcast Não Inviabilize conta histórias de pessoas beneficiadas por políticas públicas

A apresentadora Déia Freitas busca sensibilizar sobre a importância da ação do Estado na solução de problemas sociais

São Paulo (SP) |
Não Inviabilize é um dos podcasts de maior sucesso nacional - Divulgação/Déia Freitas

"Oi, gente, cheguei!". O bordão de Deia Freitas, repetido em todos os episódios do podcast Não Inviabilize, prepara o ouvinte para histórias viciantes sobre trapaças, traições, amores, gafes e, até, assombrações. A produção é um dos cinco podcasts nacionais mais escutados na plataforma Spotify. Ao todo, o programa tem cerca de 940 mil ouvintes por mês e está chegando ao número de 100 milhões de reproduções totais.

O programa tem, também, fãs participativos. O grupo de Telegram do podcast tem quase 70 mil pessoas, que comentam apaixonadamente todas as histórias publicadas.

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Apesar de não falar diretamente de política, Déia explica que sua abordagem ao contar as histórias é sempre crítica. "Você não vai pegar nenhum episódio meu falando de feminismo, mas a gente aborda muitas questões de feminismo, de relacionamento abusivo", diz. Para as historias de relacionamento, umas das frases mais usadas pela podcaster é "não seja ONG de macho".

A ideia de falar sobre políticas públicas veio como uma tentativa de deixar claro para os ouvintes a importância da atuação do estado na vida das pessoas. "Parece que a gente esquece como a gente teve tanta coisa. Pode ser que a gente não sinta tanto o impacto porque a gente não participava desses programas, mas para quem participava desses programas o impacto é muito grande", afirma. 

Ela conta que a personagem do episódio sobre o Minha Casa Minha Vida vivia em um imóvel que era invadido pelo esgoto todos os dias. "A gente não sabe o que é isso. E agora ela poder falar que está em um apartamento da Cohab que tem esgoto, tem água encanada, tem luz, é surreal a diferença", conta. "Eu quis trazer isso, para a gente ver de fato como acontece a mudança na vida de quem é beneficiado por uma política pública", diz.]

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A roteirista e apresentadora fez questão de explicar, no primeiro episódio, o que é uma política pública. "A ideia era desmistificar isso, de como funciona esse apoio que o governo dá por meio de políticas públicas. A pessoa não sabe que o governo também apoia empresários, com linhas de crédito. Se faz para o lado de lá, por que não pode fazer para o lado de cá?", questiona. 

Ela traz o exemplo do Minha Casa Minha Vida. "Por um lado você ajuda o setor da construção e por outro lado vocês está ajudando quem precisa de moradia".

Déia conta que pensa, num futuro próximo, em fazer um quadro fixo com as histórias sobre pessoas impactadas com políticas públicas. "As pessoas às vezes falam 'ai, eu não quero saber de política', mas quando a gente conta a história de alguém que foi impactado por uma política econômica, por um programa social, é mais palpável. De repente a gente está criando mais um ser consciente politicamente".

Vagas afirmativas

No início de 2022, Déia virou notícia por outro motivo. O Não Inviabilize já era um dos maiores sucessos entre os podcasts do país e ela estava buscando aumentar a sua equipe. Por isso, anunciou uma vaga de roteirista, com preferência por mulheres pretas, pardas e indígenas.

Essa decisão - cada vez naus comum no mercado de trabalho - bastou para que ela recebesse ódio gratuito nas redes. Em menos de 24 horas, ela perdeu o acesso ao e-mail de seleção da vaga e recebeu ameaça de processo de pessoas brancas, que estariam sendo 'discriminadas' na seleção. 

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O episódio foi a semente de mais uma iniciativa: a plataforma Não inviabilize a minha vaga. "A plataforma é fruto dos mais de 5 mil currículos que recebi na primeira seleção para a vaga afirmativa lançada em janeiro. Muita gente incrível se candidatou e diversas empresas entraram em contato", explicou Déia no post de lançamento. 

"A 'Não Inviabilize a Minha Vaga' faz essa ponte entre pessoas pretas, pardas, indígenas e empresas que querem implementar políticas de vagas afirmativas", explica o texto. Para acessar a plataforma, clique aqui

Edição: Lucas Weber