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Mulheres na Política: Tamires Sampaio pauta a intersecção entre raça, gênero e classe

Especialista em segurança pública, a candidata a deputada federal defende mais diversidade no Congresso

São Paulo (SP) |
Militante do movimento negro e estudantil, Tamires Sampaio ressalta a importância de um congresso forte e comprometido com um novo modelo de sociedade - Reprodução

Na série "Mulheres na Política", o Brasil de Fato vai conversar com  candidatas a deputada federal para debater a importância da inclusão desse segmento no Congresso e, em última instância, na vida pública do país. 

A primeira entrevistada é Tamires Sampaio, militante do movimento negro e estudantil. Advogada formada pelo Mackenzie, acessou a universidade por meio do Prouni e buscou na atividade política uma maneira de enfrentar um ambiente racista. 

"Na faculdade, um menino falou, olhando na minha cara: acho um absurdo ter estudante do Prouni na mesma sala que eu, porque meus pais pagaram os melhores colégios particulares da cidade para eu ter acesso à educação de qualidade. Vocês que vieram de escola pública diminuem a qualidade da discussão da educação aqui nesse espaço", conta.

A realidade do racismo e do machismo, vivenciada todos os dias, é a tônica das suas pautas. "É fundamental entender que raça, gênero e classe são questões que são interseccionais e que precisam basilar todas as construções das políticas públicas, de todas as áreas da economia, a cultura, a educação ao trabalho."

Tamires é especialista em segurança pública - chegou a exercer o cargo de secretária-adjunta de segurança pública na cidade de Diadema, na Grande São Paulo - e advoga por uma nova concepção em políticas para a área. 

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"Vai haver segurança de fato quando a gente combater fome. Vai haver segurança quando a gente tiver escolas, acesso à educação pública de qualidade nos territórios, quando tiver espaços de cultura, esporte, lazer também para a juventude, quando tiver um projeto de geração de emprego e distribuição de renda para a população. Isso traz segurança", afirma.

Tamires defende, ainda, que as políticas de inclusão de mulheres na política sejam mais robustas. "É importante a gente construir políticas e meios para garantir a participação. Os partidos precisam de fato abraçar essa bandeira, porque não adianta só preencher um número de vagas e não garantir que essas mulheres tenham condição real de disputar a eleição com visibilidade, organização e orçamento."

A presença de mulheres não é uma mera formalidade. Para Tamires, a eleição para o Congresso de mulheres comprometidas com um novo modelo de sociedade é fundamental para o futuro do país. "A gente viu desde o golpe contra a presidenta Dilma o quanto o Congresso Nacional tem ingerência sobre o que acontece no nosso país. Então, a PEC do teto dos gastos, a reforma trabalhista, a reforma na Previdência, tudo passou pelo Congresso", lembra. "A gente precisa de um Congresso Nacional forte, que tenha também compromisso com esse projeto de reconstrução do Brasil, de garantia de direitos, de retomada de um processo de fortalecimento das políticas públicas."

A reconstrução do país, para ela, está diretamente ligada à derrota da ideologia fascista que permeia uma parte da sociedade brasileira atualmente. "O principal desafio nosso nesse processo, para além da derrota do Bolsonaro, é a derrota do personalismo e a derrota de um projeto de sociedade. É uma disputa ideológica que temos que fazer. Porque, no limite, passamos por quatro anos com um governo genocida, que promove uma política de morte. Vemos explodir o número de células nazistas no Brasil. O presidente traz um sentimento de autorização da morte, da violência, e isso tomou uma parcela da população brasileira. É muito assustador ver que 30% da população ainda cogita votar [em Bolsonaro], achar que esse é um bom governo."

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Tamires falou, ainda, da importância da educação, da luta antirracista e outros temas que considera fundamentais para o país. Assista à entrevista na íntegra:

Edição: Glauco Faria