Uma parceria entre governos dos estados do Nordeste brasileiro e entidades chinesas pode garantir um reforço para o trabalho dos pequenos agricultores da região. Trata-se de um memorando de entendimento, assinado nesta quinta-feira (8), entre o Consórcio Nordeste e duas entidades chinesas para a troca de conhecimentos e o fornecimento de máquinas agrícolas adequadas para a agricultura camponesa, um dos gargalos da produção de alimentos do país.
O acordo foi firmado entre o Consórcio do Nordeste, representando os nove estados da região, e as entidades chinesas B&R Instituto Internacional de Inovação de Equipamentos Agrícolas e Agricultura Inteligente, uma plataforma de cooperação e inovação internacional sob a liderança da Universidade Agrícola da China, e a Associação de Fabricantes de Máquinas Agrícolas daquele país.
As conversas começaram durante a primeira Feira Nordestina da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Consorcio Nordeste (Fenafes), realizada em Natal (RN), no mês de junho, e contam com a participação da Associação Internacional para a Cooperação Popular (AICP).
“Existe uma lacuna histórica na mecanização agricola da agricultura camponesa brasileira”, afirma Luiz Zarref, pesquisador da AICP.
De fato, dados do último Censo Agropecuário, divulgado em 2017, mostram que a maioria dos pequenos agricultores segue trabalhando manualmente, apenas com a ajuda de animais. Apenas 12% do campesinato brasileiro tem máquinas para ajudar em sua produção.
E se o número nacional já é baixo, a desigualdade regional torna as coisas piores: enquanto na região Sul 44% dos pequenos produtores possui máquinas agrícolas, no Nordeste, região que concentra perto de metade dos camponeses do país, apenas 1,5% conta com esse apoio.
“É uma lacuna completamente absurda, pensar que o campesinato produz alimento para o povo brasileiro sem máquinas”, sustenta Zarref.
Ele conta que o tema tem sido explorado por movimentos populares ligados à Via Campesina, incluindo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Foram feitas pesquisas de máquinas em diversos países, como Alemanha e Itália, que têm maquinas voltadas para o campesinato, e também na China.
Intercâmbio e nova fábrica
Parte dessa pesquisa foi feita pela AICP, entidade criada por movimentos populares de América Latina, África e Ásia para potencializar o intercâmbio tecnológico para agroecologia, combate à fome e melhoria das condições de vida da classe trabalhadora.
“A AICP facilitou a relação entre a Universidade Agrícola da China com duas instituições que têm muito acúmulo sobre a questão das máquinas agrícolas para agricultura camponesa. E fez aponte com o Consórcio do Nordeste, representando os nove estados, que tem também esse interesse”, conta Zarref.
Foi criado um grupo de trabalho na Câmara Temática para Agricultura Familiar do Consórcio, que elaborou um catálogo com mais de 30 máquinas que seriam de interesse.
Agora, com a assinatura do memorando, os próximos passos são a aquisição e testagem das máquinas por instituições de pesquisa brasileiras e cooperativas das organizações camponesas. Também será feito um intercâmbio entre os dois países, com pesquisadores e gestores públicos brasileiros viajando para conhecer as fábricas e unidades de pesquisa na China, enquanto pesquisadores chineses virão conhecer a agricultura camponesa do Nordeste.
Essa etapa de testagem e intercâmbio deverá durar seis meses. A partir dos resultados, será desenvolvida uma política pública de aquisição das máquinas melhor adaptadas para a realidade do campesinato brasileiro. Outro desdobramento possível é instalação de uma fábrica de máquinas para a agricultura camponesa no Nordeste.
Edição: Rodrigo Durão Coelho