Apesar de um frio de 15 graus e uma chuva sem trégua, o 28º Grito dos Excluídos e das Excluídas em São Paulo começou cedo na praça da Sé. A edição paulista do ato, que faz um contraponto à versão militar e institucional do 7 de Setembro, acontece no bicentenário do "grito do Ipiranga", sob o mote "Por terra, teto, pão e democracia - pão e viver bem".
Desde as 7h, em frente às tendas vazias e cercadas da Operação Baixas Temperaturas da prefeitura de São Paulo (fazendo com que fossem inúteis até para as pessoas se protegerem da chuva), uma fila de pessoas em situação de rua já estava formada. As tendas com gente estavam do outro lado: pastorais, sindicatos, movimentos de moradia, entre outros, faziam uma distribuição de café, suco, pão, frutas e capas de chuva.
A estimativa dos movimentos era de distribuir o café da manhã para 5 mil pessoas. A atividade também integra as ações da Mobilização Nacional Contra a Fome e a Sede, que conta com alimentos produzidos pelas cooperativas do MST e doações das Cozinhas Solidárias que participam de organizações da Campanha "Gente é para Brilhar e não para morrer de fome".
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"A população em situação de rua, segundo os dados do padre Julio Lancellotti, está perto de 45 mil pessoas hoje, muitas cidades não têm essa população. A Praça da Sé, infelizmente se tornou a casa de muitas pessoas e como a gente chega na casa dessas pessoas? Pensamos em ser um momento de acolhida do movimento social, sindical e das pastorais para essa população", explica o coordenador da Pastoral Operária, Paulo Pedrini. "O Grito tem um compromisso contra a exclusão social, independente de quem seja o governo. De modo nenhum podemos deixar nossa pauta de lado, vamos estar sempre reivindicando o que é necessário para o nosso povo."
Lutar por dias melhores
"Por um Brasil livre da fome". A faixa cobria quase todo o carro de som posicionado em frente à Catedral da Sé e de onde representantes das entidades organizadoras saudavam o público sob os guarda-chuvas, desde as 9h. Entre elas, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); as Pastorais do Povo de Rua, da Juventude e da Moradia; Revolução Periférica, Frente Inter-religiosa Dom Evaristo Arns; Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB); União dos Movimentos de Moradia (UMM); Sinsprev e Sintrajud.
Rafaela Vilaça, do Feminismo Comunitário, falou com o Brasil de Fato sobre a importância da mobilização. "É o momento de o nosso povo ir para a rua e lutar por dias melhores. O Grito vem trazer pra gente uma mensagem de esperança de um novo mundo possível, que só vai acontecer com muita luta."
"Mesmo com ameaças de setores para não estarmos na rua, estamos aqui para deixar a mensagem que muita gente antes da gente morreu pra estarmos aqui hoje. Estamos aqui para dar continuidade a esse direito de ocupar esse espaço que é a rua", aponta. "Um dia o Grito dos Excluídos tem que acabar porque os direitos têm que ser iguais para todo o nosso povo."
Edição: Glauco Faria