O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou na manhã desta quinta-feira (1º) uma carta "em defesa da soberania nacional e popular" em razão do 7 de Setembro.
No documento, os sem-terra destacam que o país nunca conquistou plenamente uma condição de soberania, ressaltando que "o modelo de desenvolvimento econômico foi feito à custa de quatro séculos de escravização" e que "foi estruturado para atender os interesses externos e para a promoção da desigualdade social, desde sua origem. Uma economia forte no cenário internacional, que gera a pobreza do seu povo e destruição ambiental em seu território".
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O movimento ainda aponta o caráter da elite brasileira, "totalmente servil aos interesses do capital internacional", sustentando um "modelo econômico que promove e se alimenta da gigantesca desigualdade econômica e social existente em nosso país".
"A burguesia jamais se dispôs a construir uma Nação. Quando os povos indígenas, negros e pobres, em geral, ousaram lutar pela Liberdade e Igualdade, foram vilmente reprimidos em seu próprio país", pontua o texto.
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A carta traz críticas à gestão Bolsonaro. "Não se constrói uma Nação tendo um governo que ataca as instituições do Estado e desrespeita os processos eleitorais. Apropria-se das cores e símbolos nacionais para promover o fascismo e o ódio entre as pessoas", diz. "Não se fortalece a democracia tendo um governo que adota políticas que promovem a fome e a pobreza; facilita a aquisição de armas que acabam nas mãos do crime organizado e das milícias; incentiva a destruição ambiental e as queimadas, destrói todos os biomas, principalmente do Cerrado e o Amazônico."
Por fim, os movimentos defendem que se realize "uma grande mobilização nacional para derrotar, nas urnas e nas ruas, o neofascismo, o racismo, o machismo, a lgbtqia+fobia e a violência pregada por Bolsonaro".
"A organização popular é a nossa principal força. Precisamos, desde já, construir Comitês Populares, em todos os espaços e no maior número possível de municípios, para que o povo brasileiro seja o protagonista das transformações estruturais necessárias."
Confira abaixo a íntegra da carta:
Neste 7 de Setembro de 2022, completam-se 200 anos da Independência política do Brasil em relação à Portugal.
Nosso país jamais conquistou plenamente sua Soberania Nacional e Popular. Desde a chegada da colonização europeia, em 1500, o modelo de desenvolvimento econômico foi feito à custa de quatro séculos de escravização.
Foi estruturado para atender os interesses externos e para a promoção da desigualdade social, desde sua origem. Uma economia forte no cenário internacional, que gera a pobreza do seu povo e destruição ambiental em seu território.
Um país privilegiado por suas riquezas naturais extraordinárias e um povo valoroso, dirigido por uma elite, ainda hoje, antinacional, antissocial e antidemocrática. Uma elite que se contenta em ser o capitão do mato do capital internacional, para assegurar o saque das riquezas do nosso país.
Para assegurar a existência desse modelo, as classes dominantes não hesitaram em recorrer, sucessivas vezes, a golpes de Estado, ditaduras e a institucionalização da violência contra o povo brasileiro.
O resultado desse modelo é o país que temos hoje: totalmente servil aos interesses do capital internacional, com uma economia situada entre as maiores do planeta, às custas da exploração do nosso povo, de nossas terras e riquezas naturais. Um modelo econômico que promove e se alimenta da gigantesca desigualdade econômica e social existente em nosso país.
A burguesia jamais se dispôs a construir uma Nação. Quando os povos indígenas, negros e pobres, em geral, ousaram lutar pela Liberdade e Igualdade, foram vilmente reprimidos em seu próprio país.
A perpetuação de verdadeiras mazelas estruturais, como a concentração de terras, da riqueza e renda, servem tanto para aumentar a desigualdade social quanto para as classes dominantes exercerem seu domínio sobre as classes subalternas. Cercaram tudo: a educação, o conhecimento, a cultura, a comunicação e a informação, como se fossem privilégios exclusivos das classes dominantes.
Não! O Brasil é dos brasileiros e das brasileiras e não de suas elites. Essa terra tem dono, já gritava Sepé Tiarajú! Chegamos a uma situação de subordinação extrema aos interesses internacionais. Temos um Presidente da República que, sob conivência dos militares que se enriquecem em seu governo, batem continência à bandeira dos Estados Unidos para manifestar o quanto é servil ao império. Nossa bandeira jamais será a dos EUA!
Um presidente que hipocritamente usa a bandeira nacional nos ombros; promove negociatas das nossas riquezas naturais e de empresas estatais em benefício ao capital internacional; servil às corporações transnacionais das sementes transgênicas, dos agrotóxicos e da mineração, e incentiva a violência contra os territórios dos povos indígenas, tradicionais e quilombolas.
Não há democracia quando o patrimônio do povo brasileiro, como a Petrobras ou a Eletrobrás, está subordinado aos interesses e ganância do mercado internacional.
Não se constrói uma Nação tendo um governo que ataca as instituições do Estado e desrespeita os processos eleitorais. Apropria-se das cores e símbolos nacionais para promover o fascismo e o ódio entre as pessoas.
Exalta torturadores, ditaduras e golpes de Estado.
Não se fortalece a democracia tendo um governo que adota políticas que promovem a fome e a pobreza; facilita a aquisição de armas que acabam nas mãos do crime organizado e das milícias; incentiva a destruição ambiental e as queimadas, destrói todos os biomas, principalmente do Cerrado e o Amazônico.
É um governo que, com suas políticas e ações, aprofunda a dependência e se afasta cada vez mais da Soberania Nacional e Popular. Assim, inexistem motivos para comemorarmos os 200 anos de Independência.
Só é possível ser um país soberano se conduzirmos nosso destino em direção ao bem-estar de todo povo brasileiro, garantindo acesso igualitário à educação, à saúde, ao trabalho, à renda e à cultura.
Um projeto de país onde os bens da natureza são considerados bens sociais, destinados a atender os interesses da população e não os do mercado.
Um projeto de desenvolvimento econômico que promova a distribuição da riqueza e renda produzida, fortaleça as cadeias produtivas nacionais, a ciência e a tecnologia.
Um projeto que radicalize a democracia, democratizando o Estado e assegurando a participação popular na definição dos rumos do nosso País.
Um Projeto popular que garanta as igualdades, as diversidades e os direitos, combatendo todas as formas de preconceitos e violências. Que democratize o acesso à terra, fazendo Reforma Agrária Popular para produzir alimentos saudáveis. E que amplie a oferta de serviços públicos universais, assegurando vida digna ao povo brasileiro.
Um projeto Popular de integração com os povos latino americanos e do continente africano. Jamais saldaremos a dívida que temos com esses povos, mas podemos revertê-la em ações de solidariedade e generosidade, exigindo que nosso governo se submeta a esse desejo de reparação histórica e projeto de futuro.
Agora, urgentemente, precisamos realizar uma grande mobilização nacional para derrotar, nas urnas e nas ruas, o neofascismo, o racismo, o machismo, a lgbtqia+fobia e a violência pregada por Bolsonaro.
A organização popular é a nossa principal força. Precisamos, desde já, construir Comitês Populares, em todos os espaços e no maior número possível de municípios, para que o povo brasileiro seja o protagonista das transformações estruturais necessárias.
Só seremos independentes se construirmos um Projeto Popular e Soberano em nosso país.
Viva o Povo Brasileiro!
Viva o Brasil!
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST
7 de Setembro de 2022
Edição: Vivian Virissimo