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O que está em jogo nas eleições? O caso da TVE Bahia

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Lançamento do Filme Samba Território na TVE Bahia. Dia 14 de abril de 2011 - Neusa Cadore
Projetos distintos podem garantir maior representatividade popular ou mais concentração de poder

As eleições permitem a aparição de pessoas dispostas a nos representar nas esferas institucionais brasileiras. Este discurso da representatividade é padrão, e nem sempre se concretiza na realidade. Isto porque boa parte dos candidatos representam interesses que nem sempre expõem publicamente. Uma das formas de verificação é observar os financiadores das candidaturas, que por vezes, exigem contrapartidas políticas. Outra forma é analisar o patrimônio e os interesses particulares dos próprios candidatos.

Nas eleições deste ano da Bahia, há uma situação curiosa no que diz respeito às políticas e aos interesses na área da comunicação social e mídia. A família do candidato ao governo do Estado, ACM Neto, é fundadora da afiliada da Rede Globo, TV Bahia. Para intensificar a percepção citada, a sua candidata a vice-governadora, Ana Coelho, é uma das donas da TV Aratu, afiliada do SBT na Bahia. Trata-se de uma chapa que unifica os meios de comunicação privados na disputa pelo governo baiano. É certo que políticos não deveriam ter o controle sobre os meios de comunicação dos Estados, visto que há um choque de interesses em razão do tipo de serviço prestado. O impacto de ter uma chapa eleitoral com tamanha força midiática pode gerar um desequilíbrio na apresentação de candidaturas, além de comprometer um setor fundamental para o aprimoramento da qualidade democrática, o fortalecimento da TV Pública.

Este tipo de candidatura, caso vitoriosa, pode impactar em um projeto que vem sendo implementado há alguns anos e que tende a representar um contraponto desta situação: Trata-se da TV Pública do Estado, a TV Educativa da Bahia, a qual se fortalece nos últimos anos e consolida a sua abrangência em todo o Estado da Bahia. Além de parceria com as universidades, há uma priorização de programas de cunho socioeducativo e culturais, que dá visibilidade a produção audiovisual baiana e brasileira. Em 2019, em um período de crise econômica, o governo petista investiu R$ 7 milhões de reais em um projeto de expansão do sinal da TVE pelo interior da Bahia. A rádio educadora da Bahia também teve a cobertura ampliada, além de um canal para estudantes da rede estadual assistirem às aulas, algo fundamental no ápice da pandemia da covid-19.

Um caso que ilustra o papel da TV Pública é a transmissão do campeonato baiano de futebol. Quando detinha a licença para a transmissão, até 2020, as TVs privadas abertas passavam por volta de 10 partidas do campeonato, cuja parte comercial lhes interessavam. Em 2022, a TVE transmitiu quase 50 jogos, ao vivo, da competição, dando visibilidade para equipes do interior e movimentando todo o estado da Bahia. A maior transmissão de campeonatos estaduais do país. Para além do futebol ser o esporte nacional, a incidência cultural e esportiva é uma realidade no cotidiano das pessoas e de uma TV que busca retratar o espaço de vida das pessoas daquele estado, cumprindo a sua função pública.

Este antagonismo de perspectivas é um dos inúmeros pontos, em que a eleição de um candidato ou outro, vai muito além da figura ou carisma de um indivíduo, mas envolvem projetos distintos que podem garantir maior representatividade popular ou mais concentração de poder.

O caso da TVE Bahia é exemplificativo, mas serve de parâmetro para inúmeras candidaturas que possuem o mesmo perfil e uma vez eleitas podem comprometer projetos consolidados de interesse público diante dos interesses privados. Estejamos atentos a isso!

Edição: Glauco Faria