O discurso golpista não deve diminuir porque Bolsonaro precisa dele como arma política
Olá! Bolsonaro aposta nos eleitores arrependidos, seus amigos empresários apostam no golpe e Alexandre de Moraes aposta no poder da toga. Mas se depender da maioria dos brasileiros, o reinado de Jair terá vida curta.
.Anda café eu vou. Apesar da posição cômoda nas pesquisas, a avaliação do entorno de Lula é de que foi Bolsonaro quem pautou o início da campanha eleitoral. E o centro da disputa, para os aliados, é o voto evangélico. Segundo o Datafolha, em 20 dias, o capitão subiu 7% neste setor. A fórmula para o crescimento inclui fake news da ministra Damares e do deputado Marcos Feliciano, mas principalmente a militância de Michelle Bolsonaro, "uma voz doce com embalagem bíblica para o mesmo discurso de ódio". Inicialmente, a ideia do petista era não entrar nas pautas morais e de costumes, nem nos temas religiosos. Mas a tática mudou. Nos três primeiros eventos públicos, Lula usou metáforas religiosas e menções à bíblia; novas contas em redes sociais foram criadas para dialogar com o eleitor evangélico e a coordenação estuda a possibilidade de fazer lives exclusivas para o setor. Parte da coordenação, porém, preferia que Lula centrasse fogo nos temas econômicos. Curiosamente, o perfil do eleitor indeciso que pode decidir a eleição é de mulheres, católicas e do sudeste. Mas, os petistas temem que a onda evangélica bolsonarista alcance também o eleitorado católico. Por outro lado, entre indecisos e não-polarizados, a maior tendência é o voto em Lula no segundo turno, com 54% da preferência deste público.
.Quase sozinho e mal acompanhado. Mesmo largando bem na campanha, Bolsonaro saiu atrás de Lula na corrida e agora tenta recuperar o tempo perdido. Enquanto o petista aposta em conquistar o centro do campo, tendo se saído bem no tribunal de William Bonner e Renata Vasconcellos, Bolsonaro segue jogando pela extrema direita, de olho em seus ex-eleitores de 2018 arrependidos. Porém, o sucesso inicial da estratégia esconde sua fraqueza. Além dos 21% de ex-eleitores do capitão que afirmam que não repetirão a dose "de jeito nenhum", e 19% que estão dispostos a votar até em Lula, esse eleitorado é numericamente limitado. Com ele, Bolsonaro atingiria no máximo 40% de votos, garantindo um segundo turno, mas nada mais do que isso. Pior, a manutenção da mesmice, que se repetiu na entrevista ao Jornal Nacional, afasta qualquer possibilidade de dialogar com um leque mais amplo da sociedade. Há ainda dois outros problemas. Primeiro, está cada vez mais claro que o centrão será o poderoso-chefão do próximo governo. A solução apresentada por Ciro Gomes no Jornal Nacional foi a realização de plebiscitos. Lula, por outro lado, disse o óbvio: é necessário governar com o Congresso, mas o centrão não é um partido. Já Bolsonaro, ficou no meio do caminho entre ser tchutchuca ou antissistêmico. Aliás, antes de abandonar o centrão, é possível que o centrão o abandone, insatisfeito porque o capitão faz discurso só para o seu chiqueirinho. A segunda questão continua sendo a economia. O eleitor médio de Bolsonaro destaca-se pelo otimismo na economia, o que representa, é claro, uma minoria da sociedade. Mas mesmo que a desaceleração da inflação dê ares de vitória ao governo, ela não é capaz de atenuar os interesses que movem a economia brasileira e que são patrocinados pelo governo. Afinal, apesar dos preços dos combustíveis em queda, a Petrobras continua sendo a campeã mundial no pagamento de dividendos para os investidores. Enquanto isso, a maior parte dos reajustes salariais em 2022 ficou abaixo da inflação, segundo pesquisa do Dieese.
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Ponto é uma publicação do Brasil de Fato. Editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
Edição: Nicolau Soares