O sinal 5G puro (standalone), a quinta geração de internet móvel, começou a funcionar na cidade do Rio de Janeiro na última segunda-feira (22). A nova tecnologia pode oferecer velocidades até 30 vezes maiores que o 4G, o que no futuro irá possibilitar o uso da chamada "internet das coisas", que se refere a uma rede de objetos físicos capaz de reunir e de transmitir dados online.
As empresas de telefonia instalaram, ao todo, 1405 antenas na capital fluminense para ofertar o sinal 5G aos seus clientes. A rede ativada usa a frequência de 3,5 GHz, e além de maior velocidade, também oferece suporte a mais dispositivos conectados ao mesmo ponto.
Apesar de todos os benefícios que o 5G promete, especialistas alertam para a desigualdade no acesso da nova tecnologia.
Marcelo Saldanha, presidente do Instituto Bem Estar Brasil (IBEBrasil), organização que defende o acesso à internet como direito fundamental das pessoas, explica em entrevista ao programa Central do Brasil, uma parceria do Brasil de Fato com a rede TVT, que a implementação do 5G é muito cara e que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não estabelece como obrigação das operadoras instalarem a nova tecnologia nas regiões mais pobres.
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“O 5G, a princípio, é só para quem tiver dinheiro para pagar. As áreas que hoje ainda estão desassistidas, por conta até do próprio modelo de negócio, não terão o problema resolvido com a chegada do 5G. Pelo contrário, essa tecnologia provavelmente vai demorar muito mais tempo para chegar a essas localidades”, diz Saldanha.
Marcelo explica também que com a chegada do 5G as operadoras não podem mais usar o discurso excludente de que falta infraestrutura para que todas as pessoas tenham acesso à internet.
“A partir do momento que a infraestrutura se populariza, e a gente pode falar de médio e longo prazo, não tem mais motivo algum paraestabelecer limite de tráfego de dados, porque a própria tecnologia e a infraestrutura praticamente eliminaram essa escassez”, explica.
O pesquisador de telecomunicações e direito digital do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Luã Cruz, diz que o 5G chega como uma tecnologia para ricos e traz diversos problemas de acessibilidade.
“A gente tem uma nova tecnologia com os problemas de sempre, de acesso, de preço. O valor do 5G é muito inacessível. Aí eu falo não só do pacote do 5G, mas dos próprios aparelhos que suportam a tecnologia”, acrescenta Luã.
Para ele, é importante o maior comprometimento das agências reguladoras para que todas as pessoas tenham, de fato, o direito garantido de acesso ao 5G.
“Elas [operadoras] são obrigadas pelas regras dos programas de universalização que cumpram com as metas, ou seja, tem sim que instalar em todos os bairros, oferecer a mesma quantidade e qualidade para todos os bairros, mas isso só vai acontecer se houver fiscalização intensa”, finaliza o pesquisador.
Para acessar ao 5G é necessário ter um celular habilitado. Em caso de celulares antigos é preciso trocar por um novo que já venha com a tecnologia. Além disso, apenas uma operadora de telefonia disse ter habilitado o 5G para todos os bairros do Rio de Janeiro, as demais se concentram quase exclusivamente na zona Sul e Barra da Tijuca.
Edição: Mariana Pitasse