O estado do Rio de Janeiro registrou um número significativo de casos de violência política no primeiro trimestre de 2022, de acordo com pesquisa realizado pelo Grupo de Pesquisa Eleitoral (GIEL) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). O estado lidera o levantamento com 14 casos de violência contra lideranças políticas, incluindo quatro homicídios, o equivalente a 12,4% das ocorrências no país.
O estudo revelou também que a ameaça foi o tipo mais comum de violência política ocorrido entre janeiro e março deste ano, somando 46% dos casos em todo o Brasil. A segunda violência mais ocorrida no trimestre foi o homicídio, com 21 casos no país.
A cientista política e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Rosemary Segurado explica em entrevista ao programa Central do Brasil, uma parceria do Brasil de Fato com a rede TVT, que ameaças fazem parte de uma estratégia maior para disseminar o medo.
“Serve para fazer com que as pessoas ao se sentirem amedrontadas por um telefone, uma mensagem, elas deixem de exercer a sua atividade política defendendo seus ideais e seu direito democrático como cidadão de participar ativamente do processo político do país”, explica a professora.
Rosemary fala também das possíveis causas para este aumento da violência política neste ano eleitoral e que é necessário que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) crie mecanismos para garantir eleições democráticas.
“A liderança política máxima que deveria garantir esse processo de forma democrática, participativa é a que mais estimula a violência em todos os seus atos, em todos os seus gestos. O presidente Bolsonaro desde que tomou posse é uma das lideranças que dissemina o discurso de ódio”, constata Segurado.
Artur Miranda é diretor executivo do Laboratório de Periferias (PerifaLAB) e acredita que a violência política tem como propósito “impedir, sobretudo, os defensores dos direitos humanos de estarem ativos na política para que quem está no poder possa continuar matando pretos e pobres nas favelas e periferias”.
Ele chama a atenção para o fato de que a baixada fluminense é um local com muitos casos de violência política e que essa realidade faz parte de um projeto.
“O projeto é o controle a partir da força porque eles detêm esse poder, e aí como eles só tem a força precisam construir uma narrativa para que a radicalização do autoritarismo esteja em voga. Sobretudo na baixada, que falta muito acompanhamento de política do Estado, fica muito nítido que esse projeto de poder que acompanhou o Brasil nos últimos quatro anos é a disputa central por um projeto de controle a partir da força”, finaliza Artur.
Ainda de acordo com o levantamento, de abril a junho de 2022, o Rio de Janeiro teve uma pequena queda nos casos de violência política em relação ao trimestre anterior, mas continua entre as primeiras colocações, atrás apenas de São Paulo e Bahia.
Edição: Mariana Pitasse