O coronel da reserva Sebastião Rodrigues de Moura, mais conhecido como Major Curió, morreu na madrugada desta quarta-feira (17) aos 87 anos – completaria 88 em dezembro.
Ex-oficial do Centro de Informações do Exército (CIE) e ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI), foi um dos principais responsáveis pela repressão à Guerrilha do Araguaia, nos anos 1970, durante a ditadura. Uma de suas últimas aparições públicas foi no Palácio do Planalto. Em 2020, o presidente Jair Bolsonaro, defensor do regime autoritário, o recebeu.
Ele estava internado desde segunda-feira (15) em um hospital de Brasília, e teve septicemia (infecção generalizada).
Acusações
Assim, Curió foi o primeiro réu, no Brasil, devido a crimes cometidos por agentes do Estado na ditadura. O Ministério Público Federal apresentou seis denúncias contra ele, mas nenhuma foi adiante.
Além disso, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro, em 2010, por não investigar as responsabilidades no caso Araguaia.
“Curió era um ídolo para Bolsonaro”, escreveu em rede social o pesquisador e professor Lucas Pedretti, que publicou no Twitter uma carta escrita em 1986 pelo militar a Jair Bolsonaro. “A admiração era recíproca.”
Militantes executados
O próprio militar cedeu parte de seus arquivos ao jornal O Estado de S. Paulo, em 2009, revelando que 41 militantes do Araguaia foram executados. Isso quando já estavam presos, sem oferecer perigo.
Já nos anos 1980, ele foi enviado pelo governo para a região de Serra Pelada, no período de intensa exploração do ouro. Foi prefeito de uma cidade que leva o seu nome, Curionópolis (PA), e deputado.
Em 2012, o jornalista Leonencio Nossa, do Estadão em Brasília, publicou o livro Mata! O Major Curió e as Guerrilhas no Araguaia (Companhia das Letras). Ele ressalta dois aspectos da biografia do militar.
“Na parte do combate à guerrilha, é preciso ressaltar que foi o primeiro agente a quebrar a lei do silêncio imposta pelo Planalto, ainda no tempo militar”, afirma.
“Quanto à parte de Serra Pelada, o Major Curió ocupou um vácuo de representação em todo o Bico do Papagaio na transição entre a ditadura e a democracia.” O repórter lembra ainda que, passado meio século, a história do Araguaia permanece em aberto. “O arquivo do CIE continua lacrado.”