O último Censo de População em Situação de Rua do Rio de Janeiro foi realizado em 2020, segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS), e identificou 7.272 pessoas em situação de rua na cidade. Atualmente, este número não para de crescer. Militantes e membros de coletivos que trabalham em projetos de solidariedade relatam que cada vez mais pessoas estão morando nas ruas, incluindo famílias inteiras.
O líder comunitário na Rocinha e membro da direção do Movimento Popular de Favelas, Antonio Xaolin, participa de ações de distribuição de quentinhas. Ele conta em entrevista ao programa Central do Brasil, uma parceria do Brasil de Fato com a rede TVT, que participar dessas atividades o mostrou a triste realidade de famílias que não tem mais onde morar.
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“Já não é mais só o trabalhador que vem de longe trabalhar na zona Sul e não tem dinheiro pra voltar pra casa e fica na rua. É ele e mais famílias inteiras. Ou seja, a família dele e mais outras famílias, principalmente mães solo”, conta Xaolin.
No último domingo (7), Comitês Populares do Rio se organizaram no Armazém do Campo, na Lapa, e produziram centenas de marmitas para distribuição. O membro do Movimento Brasil Popular, Breno Rodrigues, participou da ação e conta que a situação na cidade é desesperadora, e que, com a perda da renda milhares de famílias passam fome nas ruas.
“Essas famílias têm cor. Essas famílias são sobretudo famílias negras. São pessoas pretas que estão sofrendo com essas mazelas da desigualdade social e também do racismo, que é brutal numa sociedade marcada por quase 400 anos de escravidão”, explica Breno.
A psicopedagoga Elizabeth Sá é coordenadora do projeto “Vidas Solidárias” que arrecada doações e distribui refeições todos os domingos para pessoas da baixada fluminense que estão nas ruas. Ela explica que ações como essa ajudam muito, mas não resolvem o problema da fome e da falta de moradia.
“Muita gente ficou desempregada. A gente escuta muito ‘eu trabalhava, eu não vivia na rua, eu quero sair da rua, eu tinha um emprego e fui mandado embora, não tenho como pagar aluguel’. Outras pessoas você escuta ‘eu até tenho uma casa, mas eu não tenho como comer, ou pago aluguel ou como’”, conta a psicopedagoga.
A Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro informou à reportagem que “o número de pessoas morando nas ruas na cidade aumentou por causa da pandemia e da crise econômica” e que o trabalho feito com elas é “voltado para a reinserção social”. A reportagem também entrou em contato com a Secretaria Estadual de Assistência Social, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
Edição: Mariana Pitasse