Em encontro com empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o ex-presidente e candidato ao pleito presidencial de outubro Lula (PT) criticou, nesta terça-feira (9), o uso eleitoreiro do Auxílio Brasil, que começa a ser pago nesta semana.
"Não se tem conhecimento, não se tem precedentes na história do Brasil de alguém, que faltando 57 dias para as eleições, resolva fazer uma distribuição de R$ 58 bilhões de um benefício que só dura até dezembro", disse Lula.
"É nesse clima que vamos concorrer a uma eleição, vendo um dos adversários, para não citar nomes, fazendo a maior distribuição de dinheiro que uma campanha política já viu desde o fim do Império."
Nesta terça começam os pagamentos de R$ 600 do Auxílio Brasil. Está previsto ainda pagamentos de R$ 110 do Auxílio Gás e de duas parcelas do Auxílio Caminhoneiro (que somam R$ 2 mil).
Para estabelecer pontes, o ex-presidente Lula (PT) se reuniu na manhã desta terça-feira (9) com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista. Confira #BrasildeFato 📲 https://t.co/GwhiUUbT6P pic.twitter.com/O1andybKKI
— Brasil de Fato (@brasildefato) August 9, 2022
Democracia miliciana?
No mesmo encontro, ocorrido um dia após Jair Bolsonaro ter criticado mais uma vez a Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito - iniciativa de ex-alunos da Universidade de São Paulo e que já tem mais de 800 mil assinaturas - Lula afirmou que o atual presidente iria preferir um documento assinado por milicianos.
Nessa segunda-feira (8), Bolsonaro disse que "quem quer ser democrata, não tem que assinar cartinha". Para uma plateia de bancários ele falou que, "democracia tem que sentir o que a pessoa está fazendo", mas não explicou o que quis dizer com a frase.
Na Fiesp o desprezo de Bolsonaro pela iniciativa foi citado por Lula.
"Como é que a gente pode viver num país em que o presidente conta sete mentiras todo dia? E com a maior desfaçatez. Que chama uma carta, que defende a democracia, de cartinha? Quem sabe a carta que ele gostaria de ter é uma carta feita por milicianos no Rio de Janeiro e não uma carta feita por empresários, intelectuais, sindicalistas defendendo um regime democrático", afirmou o petista.
A Carta pela Democracia já foi assinada por Lula e também pelos presidenciáveis, Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Felipe D’Ávila (Novo), Soraya Thronicke (União Brasil), Sofia Manzano (PCB), Leonardo Péricles (Unidade Popular) e José Maria Eymael (Democracia Cristã). A ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) também já endossaram o texto.
Além disso, o documento recebeu as assinaturas de juristas, artistas, esportistas, empresários, intelectuais, representantes da sociedade civil organizada e da população em geral.
A carta não cita o nome de Jair Bolsonaro, mas alerta que o país está “passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições”.
O atual presidente tem questionado a segurança das urnas eletrônicas, já exaustivamente testada. Ele nunca apresentou provas sobre os riscos que aponta no sistema, mas insiste nas insinuações de que as eleições podem ser fraudadas.
Urnas
Na Fiesp Lula questionou ainda a incoerência nas críticas de Bolsonaro, que foi eleito diversas vezes em eleições baseadas no sistema informatizado. As urnas eletrônicas são usadas no Brasil desde a década de 1990.
"Está provado que é um dos sistemas mais perfeitos que existe no mundo. Esse cidadão que é eleito desde 1998 pela urna eletrônica, qual é o direito que ele tem de colocar em suspeição? Eu tenho dito aos senadores do PT, que negócio é esse de as forças armadas agora se meterem a fiscalizar urnas? Os militares tem que fiscalizar as nossas fronteiras."
A Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito será lançada oficialmente nesta quinta-feira (11) na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. No mesmo dia, será feita a leitura do manifesto Defesa da Democracia e da Justiça, iniciativa da Fiesp apoiada por outras 107 entidades.
Edição: Rodrigo Durão Coelho