TRABALHO PRECARIZADO

Entregadores do iFood protestam contra aumento das taxas de uso de bicicletas e pontos de apoio

Grupo critica aumento dos valores enquanto o iFood Pedal de Porto Alegre está deteriorado e as bicicletas sem manutenção

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Grupo de entregadores se reuniu em frente ao ponto de apoio iFood Pedal no Centro Histórico de capital gaúcha, na manhã desta segunda-feira (8) - Foto: Leonardo Rodrigues Limeira

Entregadores de aplicativo com bicicleta que usam o Ponto de Apoio iFood Pedal no Centro Histórico de Porto Alegre realizaram uma manifestação em frente ao local, na segunda-feira (8). Entre os motivos do protesto estão o aumento da taxa cobrada pelo serviço e a degradação do espaço e das bicicletas de trabalho.

O ato chegou a bloquear a Avenida Borges de Medeiros. Dirigentes da Central Única dos Trabalhadores do RS (CUT-RS) acompanharam a manifestação, que depois percorreu as ruas do Centro até a Assembleia Legislativa do RS, quando o grupo foi recebido pelo superintendente-geral da Casa, Genil Pavan.

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Entregador há dois anos e meio, Talisson Vieira foi um dos organizadores do ato. Segundo ele, a luta é por valorização da categoria que faz a cidade se mover com a entrega de alimentos.

Ele conta que, desde a semana passada começaram rumores sobre o aumento da taxa do ponto de apoio, através de pesquisas de preços. Ao chegarem hoje para retirar as bicicletas, a surpresa: um aumento que no final do mês chega a 300%. “A gente pagava cerca de R$ 50,00 ou R$ 60,00 por mês, ao todo, para usar as bicicletas elétricas do iFood e o espaço do ponto de apoio. Hoje simplesmente passou para R$ 28,00 por semana, mais R$ 2,00 por retirada, que é um preço absurdo. No final do mês, se tu folgar um dia por semana, dará R$ 230,00, o que antes era 50 passou pra 230”, conta.

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Outro fator de descontentamento é a degradação do ponto de apoio. “No início, quando veio a iFood Pedal para Porto Alegre, tinha puff para deitar, cadeira a vontade, micro-ondas. Hoje a gente tem dois puffs, porque foram rasgando e simplesmente retiraram. São 100 entregadores, daí o pessoal tem que descansar no chão, no piso frio, além da falta de manutenção das bicicletas, o que já levou a acidentes”, afirma.

Ainda segundo Talisson, os entregadores poderiam até aceitar o aumento da taxa para uso das bicicletas e do espaço. “Desde que melhorasse a qualidade do local e das bicicletas elétricas”, aponta. Ele também relata entregadores sendo ameaçados por funcionários do local e situações de priorização de algumas pessoas, o que acabou gerando intrigas entre os trabalhadores.

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Início de uma organização dos trabalhadores

Mestrando em Ciência Política, Leonardo Rodrigues Limeira estuda a questão dos entregadores de aplicativo e apoiou a manifestação. Presente no ato, ele conta que os gerentes do local estavam diante do estabelecimento rindo dos trabalhadores. “Até o momento que a CUT chegou, daí eles se mandaram pra dentro”, afirma.

Segundo ele, os trabalhadores disseram que a questão da taxa foi o estopim de uma situação de desvalorização que já vem há tempo. "Os valores pagos são muito baixos e existem coisas como as entregas duplas, que o entregador recebe centavos a mais para fazer outra entrega num local próximo. Além das péssimas condições, bikes sem manutenção, pneus carecas, freios que não funcionam, bancos soltos, sem retrovisores, sem iluminação para circular à noite", exemplifica.

Para Leonardo, o ato já tem um saldo positivo na questão organizativa. “Muitos participaram pela primeira vez de uma manifestação, muitos se prontificaram a continuar a organizar a categoria e se estabeleceu um diálogo entre a CUT e esses trabalhadores. Além do encaminhamento com a Assembleia Legislativa."


Protesto na Avenida Borges de Medeiros, antes de seguir em caminhada até a Assembleia Legislativa do RS / Foto: Leonardo Rodrigues Limeira

Na avaliação da Talisson, a presença da CUT-RS foi muito benéfica para dar força à luta. "A gente não tem um sindicato, por exemplo como a Uber. Mas iFood, 99, Rappi, a gente não tem. As condições de trabalho são muito difíceis, a gente trabalha muito e ganha pouco, e ainda faz propaganda para as empresas nas bags e camisetas.

Ele conta que logo depois da manifestação, os entregadores que participaram foram bloqueados e não podem mais acessar as bicicletas do ponto de apoio.

"Exploração dos trabalhadores vulnerabilizados"

O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, esteve na manifestação. Para ele, é evidente que a situação dos entregadores de alimento, no caso do Ifood, “é um grande sistema de exploração dos trabalhadores vulnerabilizados”. Ele critica o fato de não terem um lugar para tomar uma água, para descansar, enquanto trabalham pedalando bicicleta, entregando refeições.

“Chegou ao cúmulo que a empresa altere unilateralmente o valor do contrato mensal que esses trabalhadores pagam para utilizar os equipamentos do Ifood. Os trabalhadores também reclamam que não receberam equipamentos para se proteger da chuva e do frio. Eles estão suportando tudo isso com recursos próprios, o que para eles está impossibilitando a própria sobrevivência”, comenta.

Segundo Amarildo, a CUT-RS está nesta luta por direitos. “Estamos integralmente comprometidos na luta, no apoio a esses trabalhadores e vamos seguir juntos para que essa situação seja resolvida ou mitigada, e eles consigam recuperar a dignidade no trabalho”, finaliza.

Posição do iFood Pedal

O Brasil de Fato RS contatou a Tembici, empresa responsável pelo espaço e suas bicicletas, bem como pelas bicicletas de aluguel Bike Itaú. Após o fechamento desta matéria, a assessoria de imprensa da Tem Bici enviou o posicionamento da empresa, que reproduzimos na íntegra:

Agosto de 2022 - O iFood Pedal, projeto pensado e realizado exclusivamente para pessoas cicloentregadoras, operado pela Tembici com o patrocínio do iFood, passou a ter novos planos, no início de agosto, com valores a partir de R$1,27 por dia, no plano semanal.

Os novos planos foram definidos com base em análises de perfil de uso e pesquisas realizadas em todas as praças com os entregadores, em um formato que garanta a viabilidade e qualidade do projeto. As duas opções de planos ofertados permitem que o usuário defina o que melhor se encaixa na sua rotina e atende as suas necessidades, mantendo o iFood Pedal como a opção mais econômica e completa para pessoas entregadoras.

Além das bikes elétricas exclusivas e retirada de bikes mecânicas em todos as estações disponíveis na cidade, os usuários do projeto ainda contam com:
- Ponto de apoio equipado com filtros de água, banheiros, mesas, microondas, pontos de recarga de celular e espaço de descanso;
- Reserva de bicicletas elétricas para serem retiradas no ponto de apoio;
- Pedal Responsa, curso digital de conteúdo formativo e de conscientização;
- Recebimento de equipamentos de proteção, como capacetes e empréstimo de bags;
- Kits exclusivos.

Vale destacar que desde abril de 2021 o projeto também conta com o Girando Ideias, atuação focada em políticas que reforcem o diálogo e escuta junto aos entregadores. Por meio do programa são realizadas ações socioeducativas com rodas de conversa e de convivência, que acontecem prioritariamente nos Pontos de Apoio e são realizadas por uma equipe especializada.

Com presença em 6 cidades brasileiras, o iFood Pedal  já realizou 3 milhões de pedidos entregues com e-bikes e bikes mecânicas compartilhadas, evitando a emissão de 60 toneladas de CO2 na atmosfera, sendo uma opção eficaz e sustentável para os locais que possuem a iniciativa.

A Tembici acredita que o iFood Pedal possui uma enorme relevância para as cidades e futuro do planeta, uma vez que a ciclologística tem ganhado cada vez mais adeptos e, a bicicleta é o modal ideal para sustentar este crescimento, uma vez que é não poluente e econômico. Sendo assim, está sempre atenta às demandas e investindo na melhoria contínua da experiência de quem usa as bicis do projeto.


Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko