Rio de Janeiro

GRAVIDEZ SEGURA

Roda de Gestantes da Maré incentiva troca de informações para o combate à violência obstétrica

Com apoio da Fiocruz, grupo criou o projeto Gestar em Roda que garante o acompanhamento de doulas para gestantes no SUS

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
O papel das doulas é oferecer suporte emocional, físico e informações necessárias - Roda de Gestantes da Maré

A violência obstétrica ainda é uma dura realidade enfrentada pelas mulheres e segundo o Observatório da Política de Saúde Integral da População Negra (PopNegra) as negras e pobres são as mais atingidas. Para combater essas violências, um grupo de doulas se uniu e criou a “Roda de Gestantes da Maré”, no complexo da Maré, na zona Norte do Rio de Janeiro.

O grupo reúne além de doulas, mães, pais, gestantes e outras pessoas com o objetivo de trocar conhecimentos sobre a gravidez, o puerpério, cuidado dos filhos e garantir a melhor experiência na gestação. O papel das doulas é oferecer suporte emocional, físico e as informações necessárias para que a gestante tenha garantido seu direito de uma gravidez com tranquilidade e cuidados.

Com a pandemia, a Roda de Gestantes da Maré, que acontece em parceria com o Espaço Casulo, encontrou dificuldades de se reunir, mas através de um edital da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) conseguiu financiamento para lançar o projeto “Gestar em Roda”, a iniciativa foi elaborada pelo Espaço Casulo e ampliou o trabalho do grupo garantindo acompanhamento multidisciplinar, psicológico, de assistência social e do trabalho das doulas nas consultas, partos, além de uma parceria com a Clínica da Família Augusto Boal.

A doula Josi Oliveira fala em entrevista ao programa Central do Brasil, uma parceria do Brasil de Fato com a rede TVT, da importância deste tipo de suporte e defende que esta seja uma prática implementada em todo o Sistema Único de Saúde (SUS).

“Quem é que mais morre nas salas de parto? Quem é que recebe uma pior assistência no momento do parto? Quem são essas crianças que nascem com comorbidades fruto de uma má assistência? Que a gente possa dentro do posto de saúde, dentro da clínica da família garantir essa assistência e esse atendimento de qualidade e gratuitamente”, questiona.

 

 

Milena Alves Moraes já tinha dois filhos quando engravidou novamente e acabou deprimida durante a gestação. Ela conta que sofreu violência obstétrica diversas vezes e nem conseguia reconhecer. Para ela, o suporte feito através das doulas do projeto fez toda a diferença e permitiu que ela conseguisse levar sua gravidez adiante e bem.

“Eu já havia tido dois filhos e toda vez que eu chegava no hospital era tratada com racismo, com ignorância, faziam cortes em mim. Nunca perguntaram se podia ou não podia. E desta vez que eu fui com a doula foi diferente. Quando eu cheguei e avisei que tinha uma doula não queriam deixar ela me acompanhar, mas aí eu falei que era um direito meu, que eu já conhecia meus direitos”, conta Milena.

A psicóloga Priscilla Monteiro é membro da Roda de Gestantes da Maré e fez o acompanhamento psicológico das gestantes que participaram do projeto Gestar em Roda. Ela explica que com as pessoas mais informadas tudo muda para melhor nestes momentos tão vulneráveis.

“O fato de ter uma gestante que está sendo assistida e acompanhada, o hospital, a própria unidade de saúde acaba revendo as suas práticas. Alguma coisa acontece dentro dessa estrutura e isso é bem significativo”, diz Priscilla.

A Roda de Gestantes da Maré teve início em 2015 e atualmente recebe entre 20 e 25 pessoas em seus encontros. O projeto Gestar em Roda acompanhou 15 gestantes. O grupo pretende que este seja um projeto piloto que possa ser usado como base e ser implementado ao SUS.

 

 

Edição: Mariana Pitasse