O Reino Unido está prestes a eleger um novo primeiro-ministro, após a renúncia de Boris Johnson, envolvido no escândalo do "partygate" - festas realizadas na sede do governo durante o período de maiores restrições pela pandemia de covid-19. A secretária de Relações Exteriores e ministra da Mulher e Igualdade, Elizabeth Truss, aparece como favorita na disputa pela liderança de cerca de 200 mil membros do Partido Conservador.
Na última terça-feira (2), foi publicada uma pesquisa de opinião realizada pela empresa YouGov, entre os dias 20 e 21 de julho, que apontou Liz Truss com 62% de intenções de voto contra 38% de Rishi Sunak, ex-ministro de Finanças, que também disputa o cargo de premiê. Truss inicia a campanha com uma vantagem de 34 pontos, mas ainda falta um mês até a decisão final.
O levantamento da YouGov aponta que ainda há 13% de indecisos, no entanto aproximadamente 29% dos entrevistados que declaram apoio a Sunak disseram que ainda podem mudar seu voto. Já Truss tem um eleitorado mais consolidado, apenas 17% disseram que poderiam alterar sua decisão.
Autoridades eleitorais questionam a confiabilidade das medições, já que o eleitorado conservador representa apenas 0,3% da população britânica. Os partidários poderão votar por correio e os resultados serão divulgados no dia 5 de setembro. O Partido Conservador disse que aumentou a segurança em torno do processo de votação após orientações do Centro Nacional de Segurança Cibernética do Reino Unido.
Enquanto Rishi Sunak foi taxado como "traidor" por Boris Johnson, Truss é considerada a sucessora da continuidade do governo atual. Diferente de Sunak e outros ex-ministros, Truss não renunciou ao cargo depois da revelação das festas na sede da administração em Londres.
A imprensa britânica ainda a reconhece como alguém que pretende retomar a figura de Margareth Thatcher - conhecida como a "dama de ferro", líder do partido Conservador na década de 1980, uma das maiores promotoras do neoliberalismo no mundo.
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Agora, uma das principais promessas de Truss é cortar os impostos. Em 2012, ela publicou o livro Britannia Unchained, que recomenda acabar com toda regulamentação estatal para "aumentar a posição competitiva do Reino Unido no mundo".
Em vídeos da campanha, Truss disse que está "comprometida com os princípios conservadores básicos, impostos baixos, controle firme dos gastos, impulsionando o crescimento da economia", e enfatizou sua experiência no governo. Ainda disse que começaria a trabalhar no primeiro dia para "garantir que Putin perca na Ucrânia".
Em 2018, Liz Truss já havia sido candidata nas primárias internas do partido, mas na ocasião, não recebeu nenhum voto. "Nem votei em mim mesma", disse em entrevista a meios locais.
De liberal a conservadora
Natural de Leeds, norte da Inglaterra, Elizabeth Truss tem 46 anos, estudou em colégios estaduais na infância e foi criada por pais considerados "de esquerda" por serem filiados ao partido Trabalhista. Mais tarde graduou-se em Filosofia, Política e Economia na Universidade de Oxford.
No período universitário filiou-se ao partido liberal-democrata e, na época, defendia o fim da monarquia britânica. "Não acreditamos em pessoas que nasceram para governar", disse em conferência do partido, em 1994.
Ao deixar Oxford, também abandonou os liberais e filiou-se ao Partido Conservador. Trabalhou como contadora para a Shell e Cable & Wireless antes de iniciar na política institucional.
Em 2001, disputou suas primeiras eleições como candidata a vereadora pela região de West Yorkshire. Não foi eleita e concorreu novamente em 2005.
Somente em 2006, foi eleita vereadora em Greenwich, bairro na região sudeste de Londres, e, a partir de 2008, trabalhou também como vice-diretora do think tank Reform.
Em 2010, apoiada pelo então primeiro-ministro David Cameron, Liz Truss foi eleita deputada pela região de South West Norfolk. Dois anos mais tarde assumiu como ministra da Educação e, em 2014, foi nomeada secretária do Meio Ambiente.
No referendo sobre a saída da União Europeia, Truss disse que o Brexit seria "uma tragédia tripla: mais regras, mais burocracia e mais atraso nas vendas para a União Europeia".
Depois que o referendo decidiu pelo abandono do bloco, Truss voltou atrás e disse que o Brexit poderia ser uma oportunidade para mudar o modo tradicional de fazer as coisas. Agora em campanha afirmou que "apresentaria as oportunidades do Brexit" ao mundo.
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Em 2016, foi secretária de Justiça no governo de Theresa May. Um ano depois foi secretária do Tesouro e, mais tarde, secretária de Comércio Internacional e presidenta da Junta Comercial, responsável por selar novos acordos com os países vizinhos já com o Reino Unido fora do bloco europeu.
Em 2020, durante um discurso no Congresso britânico, Truss fez menção a um dos maiores ideólogos do liberalismo econômico, David Ricardo, para falar sobre o futuro do Reino Unido fora da União Europeia. "Nosso grande economista político David Ricardo esboçou a ideia de vantagem comparativa, demonstrando como o comércio livre e aberto beneficia a todos, uma ideia que ainda ilumina nosso país, e temos a oportunidade de levar essa mensagem a todo o mundo", disse.
Somente no ano passado assumiu a pasta de Relações Exteriores e o Ministério da Mulher. Caso seja eleita na convenção do partido Conservador, no dia 5 de setembro, Truss será a terceira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra na história britânica.
Edição: Arturo Hartmann