Após a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) subscrever a carta em favor da democracia elaborada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o presidente Jair Bolsonaro (PL) declarou a apoiadores estar sendo perseguido pelas instituições financeiras. Segundo ele, a suposta perseguição seria uma reação de empresários do sistema financeiro à criação do Pix e dos bancos digitais.
Na semana passada, Bolsonaro chegou a dizer que "deu uma paulada" nos bancos com o Pix, que permite que correntistas transfiram dinheiro entre contas sem pagar taxas. Dias antes, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), já havia afirmado que os bancos teriam perdido entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões por conta da nova tecnologia.
O Pix foi oficialmente lançado em outubro de 2020, ou seja, durante o primeiro ano do governo Bolsonaro. No entanto, ainda em 2016, o então presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, já anunciava planos de criar uma ferramenta para transações bancárias instantâneas e gratuitas. O ex-ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou que durante o governo de Dilma Rousseff (PT) houve movimentações para viabilizar o Pix.
Quem criou o PIX?
— Nelson Barbosa (@nelsonhbarbosa) August 2, 2022
Varias pessoas, no BC, governo e mercado.
E o processo começou lá em 2010
"Uma mudança importante foi o fim do lock-in entre bandeiras e redes adquirentes em junho de 2010, que fazia com que os comerciantes tivessem diversas máquinas de cartão. " https://t.co/QxjG7LIxLB
Isso quer dizer que a ferramenta não foi uma iniciativa do governo Bolsonaro. Além disso, o Pix não tirou dinheiro dos bancos. Sem agências, os bancos gastam menos com segurança e para movimentação do dinheiro em papel. A transferência gratuita colabora para essa economia. Por esse motivo a Febraban sempre se posicionou favoravelmente à iniciativa, destacando os benefícios ao negócio dos bancos.
Ao contrário do que diz Bolsonaro, o setor bancário nunca ganhou tanto como neste governo. Só em 2021, as quatro maiores instituições financeiras do país (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander) lucraram R$ 81,6 bilhões, segundo dados tabulados pela Economatica. Esse é o maior valor registrado na história.
Em 2020, ano em que a economia brasileira encolheu 3,9% por conta dos impactos da pandemia, esses bancos lucraram, juntos, outros R$ 61,6 bilhões. Já em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, o lucro somado das quatro instituições foi de R$ 81,5 bilhões.
:: Bancos têm lucro recorde em pior ano da pandemia ::
A arrecadação dos bancos segue crescendo. No primeiro trimestre de 2022, foram outros R$ 24,3 bilhões em lucro para BB, Bradesco, Itaú e Santander – recorde trimestral. Comparado com o mesmo período de 2021, houve um crescimento de cerca de 30%.
Bancarização ajuda
O crescimento do lucro dos bancos, em parte, se deve ao aumento de pessoas utilizando serviços das instituições financeiras. Esse número também cresceu durante o governo Bolsonaro.
Em 2019, 164,8 milhões de brasileiros tinham conta em banco. Em dezembro de 2021, esse número chegou a 182,2 milhões, segundo o BC.
A estrutura que os bancos mantêm para atender todos esses clientes, no entanto, está diminuindo desde 2017. Em 2016, as quatro instituições tinham 23,4 mil agências. O ano passado terminou com 18,3 mil agências abertas.
Edição: Thalita Pires