O Pantanal, mais uma vez, sofre com queimadas e o permanente avanço do agronegócio, que coloca em risco toda a biodiversidade da região. A exuberância da maior área alagável contínua do mundo não se resume apenas à fauna e à flora, mas também às comunidades tradicionais pantaneiras que vivem na área que, no Brasil, se estende pelo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
E são essas comunidades que estão sendo ignoradas em processos que flexibilizam as regras para o avanço de atividades ligadas à agropecuária e construção de empreendimentos no bioma. É o que afirma o geógrafo Clóvis Vailant, integrante do Instituto Gaia de Pesquisa e Educação Ambiental do Pantanal.
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"O que não estamos conseguindo aqui é que as populações sejam ouvidas. As comunidades tradicionais pantaneiras não são ouvidas. Em nenhum dos processos que já aconteceram, nem na questão das queimadas. Inclusive, tentaram culpar as populações originárias. E aí se criou o mito de que o pantaneiro é o pecuarista”, aponta Vailant em entrevista ao programa Bem Viver desta quarta-feira (27).
O geógrafo destaca o Projeto de Lei (PL) 561/2022 recém-aprovado pela Assembleia Legislativa do Mato Grosso. A proposta permite pecuária extensiva e empreendimentos de pequeno porte em áreas de Preservação Permanente e da Reserva Legal no Pantanal.
O texto, que altera a chamada Lei do Pantanal, é criticado por organizações socioambientais que integram o Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Em nota de repúdio, as entidades afirmam que a medida representa uma “autorização legalizada para a degradação do Pantanal”, podendo provocar prejuízos à qualidade da água, às espécies animais e vegetais, ao equilíbrio ecológico e aos povos tradicionais e indígenas da maior planície alagada do mundo.
“Com essa nova Lei do Pantanal, eles estão tirando as barreiras que ainda existiam para empreendimentos no bioma. Com a desculpa, inclusive, de usar a ideia de que precisa de infraestrutura para combater os incêndios. Dizendo, ainda, que os incêndios aconteceram porque tinha pouco gado no Pantanal. O que é uma mentira. É importante, sim, fazer o manejo da vegetação no Pantanal, mas não é com gado. O gado pode ajudar no manejo da massa de vegetação que pode queimar, mas ele não é preponderante”, afirma Vailant.
O texto do PL justifica que a pecuária extensiva é uma atividade de baixo impacto, que auxilia a manter a biodiversidade biológica, e aponta ainda que é totalmente inviável cercar toda área considerada de preservação permanente. O projeto é de autoria do deputado estadual Carlos Avalone, do PSDB.
Lobby da indústria alimentícia
Na edição desta quarta, o Bem Viver também discute o lobby da indústria alimentícia no processo de formulação e implementação de políticas públicas de alimentação e nutrição no Brasil.
Apesar de ter um Guia Alimentar para População Brasileira, que é uma referência em recomendações para alimentação saudável, o país patina na efetivação e melhoria das políticas de alimentação e na prevenção de doenças crônicas devido a uma série de conflitos de interesses.
Por exemplo, 86% dos autores que criticam a classificação dos ultraprocessados possuem relação com a indústria que fabrica e comercializa esse tipo de produto.
Musicultura
Desenvolvido por meio de parceria entre pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro e moradores da comunidade da Maré, no Rio de Janeiro (RJ), o projeto Musicultura! pesquisa a diversidade musical em favelas cariocas.
Um dos princípios da iniciativa, apresentada no Bem Viver desta quarta, é a construção coletiva do conhecimento com valorização da experiência comunitária.
Sintonize
O programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo.
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Edição: Geisa Marques