Passou um mês, ele apareceu em casa com uma revista japonesa
Minha amiga Mary Lou casou-se com um japonês e foi morar no Japão. Entre muitas outras atividades desenvolvidas lá, ela dava aulas de português. E usava como material de apoio nessas aulas um livro meu, Santa Rita Velha Safada. Gozado, um livro de causos, como estes que conto aqui, servindo como material de aprendizagem de português no Japão.
Mas a minha amiga explicou que, como os textos eram curtos, cada um com uma historinha completa, tornava-se mais fácil. E servia também para os alunos entenderem um pouco como funciona o nosso humor.
Por sinal, não foi só a Mary Lou a usar esse raciocínio. Eu soube de um professor de português de uma universidade alemã que morou em Minas. Conheceu o mesmo livro e o usava na Alemanha também.
Outro causo: Encontro não marcado
Um dia, um sujeito me telefonou, falando um português meio complicado, dizendo que foi aluno da Mary Lou e estava chegando para morar em São Paulo. Era jornalista e trabalharia alguns anos aqui, como correspondente de uma agência de notícias. Queria se enturmar.
Marcamos um encontro e, a partir daí, passei a mostrar a ele algumas coisas de São Paulo. Sempre que podia, eu o levava a algum lugar que achava que ele gostaria.
Num sábado, a minha namorada e eu o levamos à feira-livre da Vila Madalena. Gostou muito. Fotografava tudo, aquela variedade enorme de frutas, verduras, carnes, miúdos, peixes, temperos etc.
Como não podia deixar de ser, depois de uma circulada pela feira, fomos ao Sujinho, bar tradicional da Vila Madalena. Havia um monte de gente amiga bebendo e fui cumprimentando todo mundo, bebericando a cerveja de uns, beijando as amigas...
Passou um mês, ele apareceu em casa com uma revista japonesa. Dizia que escreveu uma matéria sobre o nosso passeio na feira. Mostrou a matéria, com uma foto de um grupo dentro do Sujinho.
Mais Mouzar: Baixando Teresa
Pedi pra ele traduzir pra gente.
Ele começou a ler e foi me dando um desespero: na verdade, em vez da feira, a matéria falava mais do bar. Dizia que no Brasil, quando a gente vai a um bar pode beber cerveja do copo de todo mundo e beijar todas as mulheres.
Fiquei pensando num japonês que lesse aquilo, acreditasse, viesse para cá, chegasse a um bar qualquer e fosse bebendo dos copos dos outros e beijando todas as mulheres...
Ia, no mínimo, levar muitos tapas...
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Daniel Lamir