No último domingo (17) foi aniversário de Volta Redonda: 68 anos da história de um distrito de Barra Mansa que se emancipou e abriu um novo capítulo de progresso e prosperidade na história do Rio de Janeiro e do Brasil. Enquanto arigós deixavam suor e sangue nessa terra, construindo a maior siderúrgica da América Latina, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e dela floresceu gerações que lutaram pela identidade da cidade e ensinaram na prática o que significa fraternidade.
Esse projeto de futuro tinha hospitais, centros de pesquisa, escolas em todos os bairros, mais de uma dezena de clubes para trabalhadores.
Além de ser até hoje uma das poucas cidades planejadas do país. Tudo permeado pelo que se convencionou chamar de "família CSN", que nutria admiração, orgulho e respeito pela multinacional.
Contudo, na virada dos anos 1980 para os 1990, a face repressora da companhia se tornou a única. Durante o governo Sarney, numa das maiores greves do Brasil, o exército assassinou três voltarredondenses. O martírio de Wiliam, Valmir e Barroso não foi o suficiente, e no governo de Fernando Henrique Cardoso a CSN foi privatizada.
O novo dono, com suas obrigações claras no edital de privatização, não as cumpriu, tomando pra si todos os terrenos e bens não industriais da empresa, sem dar nenhuma finalidade socioeconômica, o que era expressamente vedado.
A melhor forma de contornar tais problemas seria o poder público agindo com coragem contra tais abusos, mas a realidade é que as administrações da cidade sempre se curvaram às ordens da Companhia. A população é marginalizada e feita de refém da especulação e abandono em todas as frentes.
A CSN lucrou R$ 1,36 bilhão no 1° trimestre de 2022. Em compensação, os salários dos funcionários estão em queda livre, os bens da empresa estão no ápice da depredação e diversas formas de poluição alcançam patamares catastróficos. Onde estão os investimentos sustentáveis? Os reajustes salariais compatíveis com lucros astronômicos?
Diante de tudo, nada seria mais justo que a CSN dar um presente de verdade para a cidade: sua soberania de volta.
A companhia é responsável pelos problemas da cidade, e pode ser responsável pelas soluções, mas é indispensável assumir um compromisso concreto com o futuro e a dignidade dos voltarredondenses.
A atividade siderúrgica produz resíduos como todas as outras. Mas, ao invés de pensarem um método de descarte não prejudicial ao meio ambiente, escolheram acumular escória tóxica nas margens do rio Paraíba do Sul sem segurança alguma. Existem decisões judiciais mandando retirar, ao menos diminuir, a montanha que tem 30 metros de altura e muitos mais de largura, mas a empresa as descumpre.
Caso haja um colapso, seria potencialmente mais grave que Mariana ou Brumadinho, em Minas Gerais. Interromperia todo o abastecimento hídrico do estado do Rio. Com o poder público inerte o que resta para o povo abandonado impedir essa catástrofe ambiental iminente? Esse será o legado de Volta Redonda?
*Rodrigo Beltrão, voltarredondense ecossocialista, fundador do coletivo Democracia Verde, secretário de Juventude do Partido Verde de Volta Redonda e conselheiro municipal de Juventude.
**Este é um artigo de opinião. A visão das autoras não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Mariana Pitasse