Os que lucram com o nosso trabalho querem que a gente trabalhe cada vez mais
“O trabalho enobrece e dignifica o homem”.
Esse ditado tem sentido, mas no sistema capitalista, o patrão é que lucra com o trabalho alheio. E tem gente que embarca nesse blábláblá patronal como se fosse uma lei divina.
É claro que o trabalho é que produz riqueza, mas ela deveria ir para quem a produziu. Por isso, pra esse ditado vale uma versão mais brincalhona: “O trabalho empobrece e danifica o homem”.
Os que lucram com o nosso trabalho querem que a gente trabalhe cada vez mais.
Ora, o que a humanidade devia procurar era diminuir o trabalho. Para isso é que, teoricamente, foram criadas novas máquinas e tecnologias. Se uma máquina produz por cem pessoas, o que se deveria fazer era diminuir a quantidade de trabalho por pessoa, mantendo os empregos e nos dando mais tempo para divertir e fazer coisas que gostamos.
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As máquinas e tecnologias deveriam ser desenvolvidas para promover a felicidade humana, mas não é sempre que isso acontece. Se uma indústria adquire uma máquina que produz muito, demite um monte de trabalhadores e exige dos que sobraram que trabalhem até mais do que antes. E eles topam, por medo de perder o emprego.
Tudo pra dar mais lucro ao patrão. E assim, em vez de diminuir a exploração dos empregados, aumenta.
Ao longo dos anos, apesar de tudo, os trabalhadores conquistaram alguns direitos mas o governo atual vai acabando com esses direitos, como o da aposentadoria. Querem que a gente trabalhe até morrer. Nós já aposentamos velhos demais, quando não temos tanta disposição para aproveitar a vida, viajar, vadiar. E vai piorando.
Por isso, faz tempo que apresento uma proposta inovadora: inverter tudo. Todo mundo deveria nascer aposentado, para aproveitar melhor a aposentadoria.
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Quando completasse quarenta anos, seria a hora de desaposentar, trabalhar o resto da vida, mas com uma carga horária decente, bons salários e direito a férias.
Aos ricos, sei que essa proposta não atrai, já que começam a trabalhar tarde mesmo, muitos deles depois dos 30 anos, já formados e doutorados. Mas para os pobres seria uma baita vantagem, não? Ainda mais que, aposentados ao nascer, todos teriam salários iguais.
Mais um motivo para os ricos não gostarem.
Alguns acham que quando chegasse aos 40 anos, muita gente ia preferir morrer do que começar a trabalhar. Mas seriam 40 anos bem vividos, né?
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Douglas Matos
