Não é por acaso que Pia Sundhage ficou insatisfeita com o desempenho da Seleção Feminina
*Luiz Ferreira
A Seleção Brasileira fez a sua segunda partida na Copa América Feminina nesta terça-feira (12). O time comandado por Pia Sundhage venceu o Uruguai por 3 a 0 sem muitos problemas e alcançou a sua segunda vitória na competição com ótimos números. O Brasil ainda não foi vazado e marcou sete vezes em duas partidas.
Adriana (atacante do Corinthians) é o grande destaque da Seleção Feminina até o momento com quatro gols marcados e boas atuações. Vale lembrar que a Copa América Feminina classifica três seleções para a Copa do Mundo de 2023 e duas para os Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Até aí tudo bem. As vitórias sobre Argentina (na estreia) e Uruguai eram resultados esperados por quem acompanha a modalidade. A questão aqui é outra. Ainda que os críticos mais ferozes de Pia Sundhage falem alto nas redes sociais (e nos canais esportivos), é preciso reconhecer que o trabalho da treinadora sueca tem qualidade.
Pela primeira vez em muito tempo estamos vendo uma sintonia entre a Seleção Feminina “principal” e as categorias de base.
Há um diálogo entre a equipe Sub-20, a Sub-17 e os clubes que disputam o Brasileirão Feminino no sentido de se aumentar a qualidade das nossas competições. É o tipo de legado que não vai ser visto hoje, amanhã ou daqui a um mês, mas apenas daqui a alguns anos com o crescimento das nossas jogadoras e dos nossos times no cenário mundial.
Entre esses críticos existem aqueles que falem na “essência do futebol brasileiro” e voltem o olhar para o passado em busca de um desempenho que nunca existiu. Isso porque o Brasil sempre foi dependente de suas estrelas e sempre sofreu com a falta de estrutura no futebol feminino.
Este colunista pode apontar vários aspectos do trabalho de Pia Sundhage que não agradam muito. Ainda sinto falta de variações táticas dentro da formação escolhida por ela e vejo uma insistência em nomes que já não entregam o mesmo desempenho visto nos seus clubes.
Por outro lado, a sueca acerta em cheio quando bate na tecla da parte física das nossas jogadoras. Não estou falando de condicionamento físico, mas de vencer duelos em campo, aguentar trancos e divididas de adversárias mais fortes e de manter os níveis de concentração e intensidade altos durante todos os noventa minutos. Algo que vemos nas principais seleções da Europa.
Não é por acaso que Pia Sundhage ficou insatisfeita com o desempenho da Seleção Feminina na vitória sobre o Uruguai.
Mesmo com a vitória, o Brasil passou por sustos desnecessários porque baixou o nível de intensidade e não adotou a postura que a treinadora sueca tanto pede da sua equipe. E vejam bem, ninguém quer vitórias por sete, oito ou nove gols de diferença. O que se pede é um desempenho seguro de uma equipe claramente mais qualificada técnica e taticamente.
Por mais que a Copa América Feminina tenha um nível de exigência menor do que os amistosos contra Dinamarca, Suécia, Espanha e outras equipes do primeiro escalão, está mais do que claro que a Seleção Feminina pode e deve entregar atuações melhores e menos preguiçosas. O nível do futebol feminino no continente subiu muito e a tendência é que Venezuela (da ótima Denya Castellanos), Colômbia e Paraguai causem problemas para a equipe de Pia Sundhage.
Mais do que nunca, é preciso colocar as coisas como elas são de verdade quando o assunto é Seleção Feminina.
Há como se criticar o trabalho da treinadora sueca em diversos pontos e questionar algumas das suas escolhas. No entanto, nenhuma dessas críticas vai fazer algum sentido se o contexto não for observado. E até o momento, as suas declarações parecem coerentes com aquilo que se vê em campo.
Manter a postura séria e concentrada em cada lance e a intensidade alta durante as partidas é meio caminho andado para vencer jogos e conquistar títulos importantes. Implantar uma mentalidade vencedora é algo urgente na Seleção Feminina e essa parece ser a grande missão de Pia Sundhage.
*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Mariana Pitasse