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EUA não está interessado em "saída pacífica" para guerra na Ucrânia, diz pesquisador

Docente da Universidade de Illinois questiona atuação da Otan e discurso da Casa Branca

Brasil de Fato | Los Angeles (EUA) |
Embarque de armas dos EUA com destino à Ucrânia. - Stephani Barge/ Departamento de Defesa dos EUA

"Estamos unidos em nosso compromisso com a democracia, a liberdade individual, os direitos humanos e o estado de direito (...). Condenamos a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia nos termos mais fortes possíveis. Isso prejudica gravemente a segurança e a estabilidade internacionais". Essas foram as palavras escolhidas para a declaração oficial dos chefes de Estado e de Governo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que participaram na reunião da aliança em Madrid, no dia 29 de junho de 2022.

A nota completa, publicada no site oficial da Otan, soa como farsa a ouvidos atentos, como o advogado de Direitos Humanos e professor da Universidade de Illinois, Francis A. Boyle. Para ele, a guerra não é da Rússia contra a Ucrânia, mas dos Estados Unidos contra a Rússia. "A administração de Joe Biden tem dado continuidade a esse ataque contra a Rússia, com o objetivo de desestabilizar o governo local e até de quebrar o país em unidades constituintes", diz em entrevista ao Brasil de Fato.

Boyle apoia sua argumentação nos tratados enviados pela Rússia aos Estados Unidos e à Otan antes de desferir o primeiro ataque contra os ucranianos, em 24 de fevereiro de 2022.

"Ainda em dezembro, [o presidente da Rússia Vladimir] Putin e sua equipe encaminharam dois rascunhos de acordos, e eu li ambos. Basicamente, o que os russos queriam eram a garantia de que a Ucrânia não entraria para a Otan, algo que seria muito fácil para Biden conceder – mas ele optou por não fazê-lo, e continua insistindo nesta narrativa".

Para o docente, é preciso que todos entendam que o problema começa com a ideia da Otan, como um todo. "O governo dos Estados Unidos é a Organização do Tratado do Atlântico Norte. Nós arranjamos a Otan, nós controlamos a Otan, nós somos a Otan", afirma.

Isso explica a resistência russa em ter um membro da organização bem à sua fronteira, e justifica o pedido de neutralidade.

"Mas os Estados Unidos não estão interessados em uma saída pacífica e, a essa altura, pode ser que armas nucleares sejam parte do desenrolar deste conflito", continua Boyle.

O objetivo estadunidense, para o professor, é desestabilizar a Rússia e ter o controle da Eurásia, porque quem controla aquele pedaço do mundo, acaba controlando tudo.

Enquanto isso, a Casa Branca argumenta que suas investidas são puramente democráticas, e que a missão estadunidense é libertar o povo ucraniano. Paralelamente, porém, o governo Biden dá sinais contrários ao provocar também a China, fomentando o movimento de independência de Taiwan. "Isso é, definitivamente, uma mensagem para a China, e é uma situação muito perigosa", analisa o docente. 

Manipulando os países europeus, e explorando os ucranianos para interesses próprios, os Estados Unidos seguem repetindo a mesma fórmula do bom mocismo para justificar suas estratégias e falta de negociação pacífica neste conflito. Para Boyle, porém, esse papel de herói já não cola mais na narrativa internacional, e visa apenas atingir a audiência doméstica.

"Isso é apenas propaganda para a opinião doméstica americana. O resto do mundo não acredita nesse absurdo. Eles viram o que o governo dos Estados Unidos vem fazendo desde a Guerra do Vietnã, e depois todas as guerras que seguiram o 11 de setembro de 2001. As guerras contra o Iraque, o apoio a Israel... Então, se você olhar para as pesquisas de opinião pública ao redor do mundo, o resto do mundo não acredita nessa propaganda. É uma propaganda doméstica, para obter apoio do povo americano para o que o Biden está fazendo". 

Ao mesmo tempo que critica a postura americana, Boyle elogia a postura brasileira. "O Brasil tem todo o direito de se manter neutro nesta disputa entre Rússia e Ucrânia e, dadas as condições, acho que a neutralidade ali é de todo interesse do povo brasileiro". 

Edição: Thales Schmidt