Rio de Janeiro

Coluna

Qual o nosso papel, enquanto pessoas brancas, na luta contra o racismo?

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O Brasil acumula uma dívida com um povo que foi escravizado por mais de 300 anos e nunca teve uma política de reparação justa - Carl de Souza/AFP
Precisamos estudar, ler e ouvir pessoas negras para pensar fora dessa bolha branca e cruel

Sueli Carneiro, a genial intelectual e ativista do movimento negro, uma das mais importantes do nosso país, se não a mais importante, esteve recente no podcast "Mano a Mano", do grande Mano Brown. Se você ainda não ouviu, corre la. Foi uma aula. 

Ouvir Sueli, é ter a chance de aprender e entender um pouco mais as raízes desse país tão violento e desigual. É uma chacoalhada para acordarmos e ter a certeza que combater o racismo é a luta mais urgente nesse país. 

Demorei muito para acordar e entender que o racismo é sem dúvida o problema mais urgente a ser combatido no Brasil. E demorei mais ainda para entender que esse é um problema nosso, dos brancos. E temos que resolver.

Me incomodava com muita coisa, mas não fazia nada para mudar. 

Continuava vivendo no meu mundo e me beneficiando, mesmo sem querer, de todos os privilégios que uma pessoa branca usufrui somente pelo simples fato de ter nascido com esse tom de pele.

Hoje entendo que esse meu despertar tão tardio, também é minha culpa, mas é principalmente parte desse projeto de país, que nos conta uma história mentirosa desde sempre, começando nas escolas. 

Um país que não teve e não tem uma política de reparação para os negros após mais de 300 anos de escravidão, um país que não conhece e nem valoriza a história africana, um país que vende o mito da democracia  racial, que serve perfeitamente para a manutenção do racismo e do poder nas mãos dos brancos. E volto a dizer que somos nós, brancos, quem devemos combater esse problema.

O racismo mina as possibilidades de o povo negro sonhar e acaba com a sua dignidade.

Mais do que isso, o racismo mata, humilha e acaba com a dignidade do ser humano. Ao mesmo tempo, o racismo abre caminhos para os brancos, mesmo para aqueles que não gostariam que fosse assim. 

E a partir daí cabe a todo branco se juntar nessa luta antirracista, se manifestar e dizer que esse não é o país que queremos.

É preciso acreditar que podemos construir um outro Brasil e nos movimentarmos para que todos sejam respeitados, vivam com dignidade, segurança e liberdade. Também que o acesso à educação de qualidade, saúde, cultura, esporte seja um direito de todos. Utopia? Talvez. Mas é necessário que essa mudança aconteça. 

Precisamos sair da inércia e aprender, estudar, ler, ouvir entrevistas e consumir muito conteúdo produzido por pretos para nos posicionarmos e para que tenhamos a chance de pensar fora dessa grande mentira da meritocracia e da democracia racial. 

Sueli Carneiro, Lélia Gonzales, Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro, Grada Kilomba, Chimamanda e Silvio Almeida são alguns dos escritores e intelectuais que estão me ajudando a pensar fora dessa bolha branca e cruel.

Direcionar a nossa leitura, o consumo de conteúdos das redes sociais, educar nossos filhos trazendo essa conversa para dentro de casa, cobrar para que as escolas tenham mudanças concretas na luta antirracista são algumas das muitas coisas que podemos e precisamos começar a fazer.

Se você pensou que esse texto está atrasado, porque já falaram muito sobre a participação da Sueli no podcast, você está enganado. Precisamos falar disso todos os dias. 

O que você tem feito para lutar contra o racismo? 

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse