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Melhor Jair se despedindo

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Derrotas da direita nos Estados Unidos, no Reino Unido e na América Latina prenunciam o pior para Bolsonaro - Sergio Lima / AFP
Principal preocupação do governo continua sendo estancar a impopularidade em âmbito doméstico

Olá, as derrotas da direita nos Estados Unidos, no Reino Unido e na América Latina prenunciam o pior para Bolsonaro. Mas a batalha final será travada em território nacional.

.Tudo pelo social. Bolsonaro vive um crescente isolamento internacional, como mostra o encontro do presidente português com Lula e a pressão do Congresso norte-americano contra a ameaça golpista dos militares brasileiros. Mas a principal preocupação do governo continua sendo estancar a impopularidade em âmbito doméstico. A água bateu na bunda e acabou respingando nos ministros, cobrados para fazer campanha. O foco do governo tem sido capitalizar o saldo político da PEC das “bondades” e ao mesmo tempo administrar os problemas trazidos por ela. A expectativa é que medidas como o aumento do Auxílio Brasil se revertam em apoio a Bolsonaro, o que já estaria acontecendo segundo a última pesquisa PoderData, mas cujos efeitos muitos especialistas consideram duvidosos. Porém, os entraves à aprovação do pacote no Congresso mostram que a jogada tem seus riscos e contradições. A começar pelas investigações do Tribunal de Contas da União, que além de retomar um possível caso de fraude do Ministério da Saúde durante a pandemia, também está de olho no aumento de gastos do governo em ano eleitoral. Outro risco é a excessiva ampliação da PEC de forma a resolver problemas setoriais ou beneficiar bases políticas, a exemplo da disputa para criar ou não um benefício para motoristas de aplicativos. Aliás, tudo isso tem implicações fiscais que desagradam os ortodoxos e o mercado. E não só eles. Os prefeitos também se rebelaram por terem que bancar novos gastos com um orçamento que já é curto. Por fim, o governo ainda precisa enfrentar negociações num Congresso que tem pautas próprias, que derruba vetos presidenciais a leis voltadas para o setor da cultura e à restrição de busca e apreensão em escritórios de advogados. É claro que o dinheiro resolve muitas coisas, desde que se tenha R$ 6 bilhões para fazer o centrão mover montanhas e outro tanto para apaziguar as relações com a Rede Globo.

.Ninguém vota no coronel. Mesmo que esteja em campanha presidencial desde 2018, Ciro Gomes está mantendo insuficientes 8% das intenções de votos, no melhor cenário. O fracasso da sua candidatura pode ser medido pela ausência de palanques nos Estados, já divididos entre Lula e Bolsonaro, o que tem levado a campanha a se dedicar mais à internet do que aos atos públicos. E pior: um dos três únicos estados onde o PDT tem candidatos ao governo, o Rio de Janeiro ensaia uma deserção em direção à candidatura Lula, tendência que pode ser reforçada depois do ato massivo de quinta-feira (07) na Cinelândia. Ciro não lidera as pesquisas nem mesmo na sua terra natal, onde fica atrás dos dois principais candidatos. Mas, mesmo assim, é o eleitor de Ciro Gomes quem pode definir se esta eleição terá ou não segundo turno. Segunda a Quaest, 44% dos ciristas teriam Lula como plano B. Porém, o Instituto Idea identificou que os ciristas são resilientes e pretendem permanecer fiéis. Já segundo Thomas Traumann, numa eleição em que tudo já foi antecipado, é possível que os ex-ciristas tenham feito a opção pelo voto útil lá atrás e, portanto, quem está com Ciro agora não vai mudar seu voto no primeiro turno.  Ainda assim, a estratégia petista é não responder aos frequentes ataques de Ciro e sorrir e acenar para sua base. E não só para eles. A turnê de Lula e Alckmin com os empresários segue e, pelo jeito, vai dando frutos, com a redução de rejeição na Faria Lima e tranquilizando tanto a turma da FIESP quanto a de Wall Street. Falta ainda furar o bloqueio do agronegócio. Para além do PIB, Lula e Alckmin agarraram a ideia de frente ampla contra o fascismo e de que será um mandato de reconstrução nacional para preparar um próximo período, sem o protagonismo do petista. Prova do sucesso da campanha de Lula é que sua vitória parece ser dada como certa até pela Revista Veja, que adiantando-se à conjuntura já ensaia ser oposição ao futuro governo, requentando o velho sensacionalismo antipetista, agora aliada ao bolsonarismo.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Contra o poder ideológico do imperialismo. Em entrevista para Jacobin, o historiador Vijay Prashad reflete sobre a expansão global da extrema-direita e as resistências dos trabalhadores.

.Discurso eleitoral contra comunismo não está mais tendo efeito na América Latina, diz especialista. O pesquisador peruano Alberto Vergara explica porque a batalha cultural da extrema-direita “cansou” o continente.

.Como a esquerda quer governar a Colômbia. Gustavo Petro e Francia Márquez querem paz e reparação, reforma agrária e justiça social. Mas a direita não está morta e será preciso negociar. Por Julian Gomez Delgado, no Outras Palavras.

."Criminalização criou mercado ilegal e paralelo do aborto no Brasil", diz Silmara Conchão. Em entrevista para o Brasil de Fato, a socióloga fala sobre a importância de uma política pública para enfrentar o problema do aborto.

.Assange – a batalha judicial não terminou. O juiz espanhol Baltasar Garzón conclama para a permanência da luta pela liberdade de Julian Assange. 

.Novo estudo expõe contradições do pensamento militar sobre a defesa da Amazônia. Pesquisadora do Instituto Tricontinental Ana Penido questiona conceitos centrais da perspectiva militar sobre a Amazônia, como defesa das fronteiras, geopolítica e soberania.

.Condições precárias de presídios do país foram mais letais do que Covid-19. Pesquisa da USP e da UERJ demonstra que as condições materiais mataram mais que Covid-19 na população carcerária.

.Um produto que não sofreu com a inflação. Leandro Demori demonstra como os preços dos fuzis caíram e as vendas aumentaram graças ao bolsonarismo.

.A fome explode e o “agro” planta combustíveis. Devastação de biomas, inflação de alimentos e expulsão de lavradores e indígenas de suas terras são alguns dos efeitos da produção de combustíveis. No Outras Palavras.

.A nostalgia soviética agora tem sua própria trilha sonora. Não só de Stranger Things vive a saudade da Guerra Fria. Conheça a memória musical russa em torno do passado soviético. Na Jacobin.

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Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Edição: Vivian Virissimo