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Eles garantem que é verdade...

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Outro mentiroso que estava perto disse que um povoado ali perto era mais frio ainda e contou a seguinte história... - Creative Commons
Ele garantia que cruzou abelhas com vagalumes, e assim a colmeia trabalhava dia e noite

Gosto de me lembrar de causos de mentirosos. E tem gente boa e famosa que gosta também. Um deles era Ariano Suassuna, criador, entre outras obras, do “Auto da Compadecida”. Ele contava de um mentiroso de quem gostava muito em Pernambuco.

O sujeito começou a criar abelhas e vender mel, mas era tanto mel que passaram a achar que ele estava falsificando. O sujeito contou, então, porque estava produzindo tanto mel: ele garantia que cruzou abelhas com vagalumes, e assim a colmeia trabalhava dia e noite, produzia o dobro.

Na minha terra, em Minas Gerais, um sujeito contou que, quando adolescente, a família dele tinha uma fazenda num bairro rural chamado Cafundó, e lá fazia um frio desgraçado.

Ele recebeu do pai a função de tomar conta de um grupo de trabalhadores que capinavam um pedaço e, numa manhã gelada, ele levou uma cabaça cheia de água pra ir bebendo durante o dia.

Pendurou a cabaça no galho de uma árvore e ficou vendo os trabalhadores. Quando resolveu tomar um gole d’água, foi à árvore onde estava pendurada a cabaça e levou um susto: a água tinha congelado, cupins comeram a cabaça e ficou aquele bloco de gelo pendurado no galho.

Outro mentiroso que estava perto disse que um povoado ali perto era mais frio ainda. Contou a seguinte história:

“O meu pai tinha uma farmácia, atendia fiado, e me mandava fazer umas cobranças dos devedores. Um dia fui cobrar umas dívidas nesse povoado e fui dormir na casa de uma comadre do meu pai. Estava frio demais. Ela me deu sete cobertas. Eu não consigo dormir sem ler alguma coisa antes. Ela me arrumou uma vela e fiquei lendo um livro que levei, com aquela luzinha fraca. Quando bateu o sono, soprei pra apagar a vela, ela não apagou. Soprei de novo, não apagou. Resolvi apagar com os dedos e, quando coloquei os dedos na chama vi que ela estava congelada”.

Recentemente, meu amigo Renê Magrini contou de um mentiroso de Nhandeara, no estado de São Paulo. O sujeito contou que, numa festa de Ano Novo, chacoalhou bastante uma champanha, pra que quando abrisse o gás mandasse a rolha bem longe.

E concluiu: “Seu Magrini, foi tanto chacoaio na garrafa que quando a rôia saiu, foi com tanta força que bateu no teto, vortô e tampô a garrafa de novo”.

 

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Rodrigo Gomes