Depois de causarem milhares de ocorrências devastadoras e fatais na Região Metropolitana do Recife no fim de maio, os fortes temporais agora assolam com mais intensidade a Mata Sul e o Agreste de Pernambuco. Desde a última quinta-feira (30), com o aumento das chuvas e o transbordamento de rios, 36 municípios sofreram danos e perdas, deixando 8.318 pessoas desalojadas e mais 1.413 pessoas desabrigadas, informou o Governo do Estado na manhã desta terça-feira (5). Ao todo, são 9.731 moradores fora de suas casas. Um homem de 21 anos está desaparecido desde o sábado (2).
O rapaz é um funcionário de Serviços Gerais da Prefeitura de Jaqueira, na Mata Sul, cidade afetada pela elevação do Rio Piranji. De acordo com informações repassadas pela assessoria de imprensa do município, ele estava atravessando uma praça alagada quando a enxurrada derrubou um poste e o eletrocutou. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que ele cai na água e a correnteza leva o seu corpo. A vítima ainda não foi encontrada.
Ao todo, também sofrem com efeitos da chuva 36 cidades: Águas Belas, Água Preta, Altinho, Angelim, Barreiros, Belém de Maria, Bom Conselho, Brejão, Caetés, Calçado, Capoeiras, Canhotinho, Catende, Correntes, Cortês, Escada, Gameleira, Garanhuns, Iati, Itaíba, Jaqueira, Jucati, Jurema, Jupi, Lagoa do Ouro, Maraial, Palmares, Palmerina, Panelas, Paranatama, Quipapá, Rio Formoso, Saloá, São Benedito do Sul, Tamandaré, Terezinha.
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Dessas, pelo menos 25 já declararam Situação de Emergência, disse a Coordenadoria de Defesa Civil do Estado de Pernambuco, por meio da Secretaria Executiva de Defesa Civil de Pernambuco (Sedec). São elas: Água Preta, Angelim, Barreiros, Belém de Maria, Bom Conselho, Brejão, Caetés, Calçado, Canhotinho, Capoeiras, Catende, Correntes, Cortês, Iati, Itaíba, Jaqueira, Jucati, Jupi, Lagoa do Ouro, Maraial, Palmerina, Paranatama, Saloá, São Benedito do Sul e Terezinha.
Na cidade de Correntes, no Agreste, a agricultora Maria das Graças Oliveira, 43, teve a casa invadida pela enchente no sábado (2). O imóvel é também onde funciona o comércio do marido - um abatedouro -, e água destruiu parede, piso, mercadoria, freezer e outros maquinários.
"Foi muito desesperador a gente ter nossas coisinhas, trabalhar, construir e ver a água, aos poucos, levando. É uma sensação muito triste, eu entrei em pânico, porque eu não sabia o que fazer, queria ajudar as pessoas, mas também precisava de ajuda. Um desespero que só quem passa sabe", lamenta.
Ela calcula que o dano foi de mais de R$ 10 mil. Mas a casa em que moram seu filho, sua nora e sua netinha foi ainda mais afetada. "Ele perdeu tudo - as camas, geladeira, sofá, guarda-roupa, as coisas da criança", relata Maria das Graças, com a voz embargada.
A zona rural do município também sentiu o impacto. Onisvaldo Ferro Silva, 58, mora no Sítio São João com a esposa e conta que não tem conseguido escoar sua produção de leite por conta dos efeitos da inundação. O caminhão que busca o insumo não consegue passar. "Só tem uma estrada, e a água carregou as cabeças da ponte. Está praticamente intransitável", diz. Além dos buracos, uma árvore caiu no caminho, piorando ainda mais a situação.
Onisvaldo também é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Correntes, e conta que quem vive da produção agrícola perdeu toda sua safra. "Está tendo chuva há praticamente 30 dias, e apertou mais nos últimos dias. O milho amarelou, o feijão não dá", fala.
Municípios do interior também serão contemplados pelo Auxílio Pernambuco
A orientação do Estado é que “a população não ultrapasse as áreas inundadas e alagadas e sigam todas as recomendações da Defesa Civil Municipal, mantendo-se em alerta, sobretudo nas áreas ribeirinhas e de risco”. É possível acionar a Central da Codecipe através dos telefones (81) 3181-2490 e 199; os canais funcionam 24 horas por dia.
Em comunicado divulgado na tarde do domingo (3), o governador Paulo Câmara anunciou que vai estender o Auxílio Pernambuco para as cidades atingidas. O benefício emergencial vale 2.500 e é destinado aos que ficaram desabrigados e desalojados por conta de ocorrências relacionadas às fortes chuvas que assolam o Estado nos últimos meses.
O fenômeno que tem provocado as chuvas desde a quinta-feira (30) em Pernambuco se chama Onda de Leste, explicou o meteorologista Romilson Ferreira, da Agência Pernambucana de Água e Clima (Apac). Ainda que a Mata Sul e o Agreste tenham registrado precipitações mais intensas, a Mata Norte e a Região Metropolitana do Recife (RMR) também puderam sentir a alteração no tempo. Em maio, foi outra Onda de Leste que causou os temporais na RMR.
"Essas chuvas devem ficar, de forma geral, no setor leste - Agreste ao Litoral - até a madrugada. A partir desta terça-feira (5), Pernambuco fica um pouco mais seco. A gente espera chuva fraca a moderada, mas deve continuar na Mata sul e Agreste meridional", relatou o especialista.
A partir da quinta, a Apac emitiu 17 avisos para Mata Sul, Mata Norte e Agreste alertando sobre o aumento do nível dos rios. Segundo o técnico de recursos hídricos Wagner Silva, da Apac, a maioria desses corpos d'água já voltaram à situação normal.
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Até a tarde dessa segunda-feira (4), o rio, dentre os que a Apac monitora, que ainda estava em cota de alerta de inundação era o Rio Una, no trecho da cidade de Barreiros, Mata Sul. Além dele, também estava em alerta (mas provavelmente sem risco de inundação) o Rio Sirinhaém, na altura de Barra de Guabiraba, no Agreste, e Cortês, Mata Sul.
"Alguns rios estão em situação de pré-alerta - ainda não apresentam risco -, que é o Rio Panelas, em Belém de Maria (Mata Sul). Em Canhotinho (Agreste), está em situação estável", falou Wagner.
O transbordamento dos Rios tem ligação direta com as precipitações. "Quando a chuva cai em algum município que o rio percorre, não só chove naquele local, pode chover em maior intensidade ou menor em regiões mais acima. Ela vai se acumulando e chega nesse curso principal, onde recebe mais água e vem a transbordar a calha principal do rio", contextualizou.
Os temporais registrados nos últimos meses agravam o quadro. "O solo já está encharcado e não consegue mais absorver tanta água como absorveu no início da chuva, quando o solo tinha capacidade maior de infiltração da água. Agora, encharcado, toda água que vem da chuva escorre para esses rios", detalha.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Elen Carvalho