"Eu sei que muita gente morreu, né? Mas tem os que estão vivos que estão passando por esta situação, que também é descaso. É um descaso o que a gente está vivendo". Edilene da Silva é uma das 10 mil pessoas que perderam a moradia no final de maio, após os deslizamentos e alagamentos provocados pela falta de infraestrutura para o período chuvoso na zona da mata e na Região Metropolitana do Recife, em Pernambuco.
Edilene mora na Vila dos Milagres, no bairro do Ibura, uma das áreas mais atingidas na capital pernambucana. Ela teve que deixar sua casa por orientação da Coordenadoria de Defesa Civil do Recife (Codecir), por risco de deslizamento. "É um descaso muito grande com o pobre, e eu não estou falando aqui de política não. Eu estou falando de direito, direito do ser humano. Porque cada ser humano que se preze tem um cantinho para viver e a gente é trabalhador. Se a gente está lutando é pela nossa dignidade, que é direito nosso de ter um lar, ter uma vida; e agora estar assim numa situação dessas, disse Edilene.
Um mês se passou e algumas pessoas que moram em áreas de risco começaram a voltar para as suas casas, mesmo sabendo da ameaça de deslizamentos no local. É o caso de Crislaine Ramos da Silva, que é mãe solo e está organizando a casa para voltar com a sua filha de 4 anos. "Eu estava na casa da minha irmã, que é barreira também, né? Que a casa da minha irmã foi atingida da barreira. Mas risco por risco, eu prefiro voltar para a minha casa. Não tenho condições de pagar aluguel, aí eu estou ajeitando, comecei a ajeitar hoje para voltar amanhã. Minha casa está atrás da barreira. É uma das mais perigosas, que é a mais alta, mas vou ter que voltar", afirma a moradora.
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Elisângela Borges da Silva se encontra na mesma situação semelhante. Ela está, com o marido e a filha, em um imóvel cedido por uma vizinha, mas já está se organizando para voltar para a casa após ter perdido tudo no último deslizamento. "Encheu de lama aqui até na beira da cama, melou a casa todinha. Perdi meus móveis, né? E a casa a Codecir condenou, mas não resolveu nada", afirmou Elisângela.
Segundo dados divulgados pela Gerência de Análise Criminal e Estatística, da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), 55% das vítimas das chuvas no período eram mulheres.
Para a moradora Crislene da Silva, irmã gêmea de Crislaine, que teve parte da sua casa soterrada, os moradores e moradoras da Vila dos Milagres continuam precisando de ajuda. "A nossa vida é assim, minha fia, de luta. Muita luta e muito sofrimento. E a gente quer alguém para nos ajudar, para ajudar a gente a sair dessa situação", destaca ela, que segue em seu imóvel.
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Em nota, a Prefeitura do Recife informou que mais de 32 mil famílias foram cadastradas no Auxílio Municipal e Estadual (AME). Dessas, cerca de 10 mil foram beneficiadas até agora. Ao todo, os recursos chegam a R$75 milhões entre verbas da prefeitura e do governo, e até o momento foram desembolsados cerca de R$ 25,5 milhões. A reportagem também entrou em contato com o Governo de Pernambuco, mas não houve resposta até o fechamento desta reportagem.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Elen Carvalho