Quase um ano após a apresentação do primeiro pedido de autorização da coronavac para crianças de 3 a 5 anos, ainda não há previsão de aprovação do imunizante no Brasil. Enquanto isso, a Food and Drugs Administration (FDA), agência norte-americana que autoriza o uso de fármacos no país, aprovou o uso dos imunizantes da Pfizer e da Moderna em crianças com mais de seis meses de idade e a imunização nos EUA começou nesta terça-feira (21).
Após duas negativas para o uso dessa vacina em crianças pequenas, o Instituto Butantan, fabricante da Coronavac, afirma ter entregado toda a documentação exigida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A agência recebeu o parecer de sociedades médicas brasileiras em relação aos estudos apresentados, mas não marcou a data da reunião que decidirá pela aprovação ou não do imunizante.
Apesar da falta de respostas, o médico sanitarista Claudio Maierovitch, ex-presidente da Anvisa e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), acredita que a Coronavac será autorizada.
“Todos nós da saúde coletiva estamos na expectativa que essa aprovação saia, porque é muito importante ampliar a faixa etária”, diz Maierovitch “Essa tecnologia usada na Coronavac é muito segura, conhecida há muito tempo. Ela utiliza vírus inativados, muito parecida com a vacina da gripe, que já é utilizada em crianças com mais de 6 meses de idade”, explica.
Crianças precisam da vacina
Ele defende a importância da vacinação em crianças pequenas. “É um mito a ideia de que a covid não dá problemas em crianças. Nós ficamos muito impressionados, com razão, com a catástrofe que aconteceu com a covid, especialmente na população de mais idade e nem sempre as pessoas prestaram atenção no que estava acontecendo com as crianças”, afirma o sanitarista. "É verdade que a proporção de doença grave é muito menor do que nos idosos ou das pessoas com outras doenças, mas há muitos casos de crianças com doença grave que hoje estão desprotegidas”, diz.
A vacinação das crianças também pode ter influência no controle da transmissão do vírus. “A ampliação para a faixa dos 3 a 5 anos incluiria uma parte das crianças que já estão em escola e creches, ou seja, que já têm um contato social importante, e que, portanto, participam das cadeias de transmissão que mantêm o vírus circulando”, explica Maierovitch.
Pandemia não acabou
Mesmo com uma eventual aprovação da vacina, o recado de Maierovitch é claro: não é para relaxar. “Para idade nenhuma nós podemos dizer ‘olha, volta tudo ao normal, vamos relaxar’.” Ao contrário, ele defende a manutenção das medidas não farmacológicas de controle da transmissão do vírus, como o uso de máscaras em locais fechados, inclusive escolas. "No meu entendimento, o uso de máscaras nunca deveria ter sido interrompido em ambientes fechados. É um método simples, barato e que não causa problemas nas pessoas", diz.
É preciso, ainda, combater a desigualdade de acesso aos imunizantes. "No Brasil temos um Programa Nacional de Imunizações que chega em todos os cantos desse país. Mas essa foi a primeira vez em que uma campanha de vacinação não foi acompanhada de uma campanha de comunicação", explica Maierovitch. "É importante as pessoas saberem que existe a vacina, que ela funciona, que é muito segura e que elas oferecem uma proteção muito boa contra doença grave, contra internação e contra mortes", finaliza.
Edição: Rodrigo Durão Coelho