O dia nesta sexta-feira (24) deveria ser de festa para a cultura na cidade de Assis Chateaubriand, interior do Paraná, com a inauguração do teatro municipal da cidade. Porém, o espaço cultural, que teve investimento de R$ 10 milhões, receberá o nome do deputado federal Moacir Micheletto, defensor da ditadura militar.
Artistas e entidades que representam o setor cultural paranaense destacam a importância do teatro, porém repudiam que o lugar receba o nome de um politico que nada fez pela arte e que foi defensor da ditadura. Micheletto morreu em 2012.
“O Moacir Micheletto tem em seu currículo o apoio à ditadura militar que matou centenas de pessoas, entres essas, artistas. Dar um nome de um teatro, que é uma casa sagrada para os artistas e um local de representação humana, é algo indigno com o próprio teatro”, diz Raquel Rizzo, presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Paraná (Sated-PR).
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Em seu currículo, Moacir Micheletto conta com a filiação à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do regime militar instalado no país em abril de 1964.
Denúncia ao Comitê da Memória, Verdade e Justiça
Para atriz Nena Inoue, que viveu sua infância na cidade de Assis Chateaubriand e lá começou a fazer teatro na escola, a notícia é revoltante.
“Eu fiquei muito feliz quando soube da inauguração. Mas quando vi que o local receberia o nome de um deputado, achei um absurdo. Isso não faz sentido para um teatro. Como é que a gente homenageia um cara que apoiou a ditadura e nada fez para a cultura?", questiona.
Além do apoio à ditadura, a atriz destaca que, entres as ações do deputado, esteve a proposta de diminuição de reservas da Amazônia. Como deputado federal, em 1998, Micheletto apresentou a proposta de alteração no Código Florestal que reduzia de 80% para 50% o percentual de preservação ambiental obrigatória em propriedades situadas na Floresta Amazônica, e de 50% para 20% a mesma reserva legal na região do cerrado.
“É um homem que nunca fez nada pensando no bem estar das pessoas", pontua Nena Inoue. A atriz ainda informou que pretende levar a denúncia da homenagem a um apoiador da ditadura ao Comitê Estadual da Memória, Verdade e Justiça do Estado do Paraná, entidade responsável por acolher e denunciar crimes cometidos sob o regime militar.
Teatro não é patrimônio de políticos
Para representantes dos artistas no Paraná, dar a um teatro, que é um bem público, o nome de um político é querer patrimonializar a arte e a cultura.
“Não é a primeira vez que o Paraná disputa simbolicamente a nominação de um teatro. Lembremos que o atual Teatro Guaíra se chamava anteriormente de São Teodoro, que era o Ébano Pereira, mas os artistas e a cidade queriam outro nome, que representassem o Paraná anterior à ocupação europeia. Posteriormente, recebe o nome de Guaíra, nome da antiga província que hoje vem a ser o Paraná”, lembra Gehad Ismail Hajar, presidente do Sindicato dos Empresários e Produtores em Espetáculos do Paraná (Seped-PR).
A atriz e diretora de cinema Maria Fanchin, que nasceu na cidade e atualmente mora em São Paulo, recebeu a notícia com indignação.
“O teatro é público, um bem da população e, portanto, não é um patrimônio privado da família Micheletto. A família não está fazendo caridade dando um teatro para a cidade. Ter teatros na cidade é uma obrigação dos políticos e do poder publico”, diz.
Homenagem à "luta incansável" pelo teatro na cidade
A redação do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Prefeitura de Assis Chateaubriand a respeito das manifestações dos artistas. Até o fechamento da matéria, não houve retorno.
No site da prefeitura consta, no entanto, uma explicação sobre a homenagem. De acordo com a prefeitura, o nome do Teatro Municipal “é uma homenagem por conta da luta incansável do então deputado federal Moacir Micheletto em construir um teatro municipal em Assis Chateaubriand."
O texto do site explica que o filho do deputado, Marcel Micheletto, enquanto prefeito do município, "incansavelmente foi atrás de verbas para a conclusão do que é um dos maiores teatros do Paraná."
"Foram aproximadamente R$ 10 milhões de reais em investimentos. Sendo as três últimas etapas com valores robustos para a parte de finalização da obra, foram mais de R$ 7 milhões”, aponta o texto da prefeitura.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini