Os jovens entre 18 e 24 anos que compõem a população ativa economicamente estão entre os mais afetados pelos índices de desemprego dos últimos anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto a média nacional em todas as faixas etárias ficou em 10,5% no primeiro trimestre de 2022, a desocupação entre os jovens que tentam entrar no mercado de trabalho é de 22,8%.
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Historicamente, a média nessa faixa etária sempre foi mais alta, mas nos anos anteriores ao golpe contra a presidente Dilma Rousseff (PT) e nos governos do Partido dos Trabalhadores o índice se mantinha mais baixo, oscilando entre 12% e 16% no período em que o índice de desempregados na faixa etária acima (25 a 39 anos) teve média de 6%.
Desde a reforma trabalhista no governo de Michel Temer (MDB), a informalidade tem se tornado parte considerável da oferta de emprego. Aos 23 anos e moradora de Venda da Cruz, bairro de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, Laryssa Costa contou à reportagem do Brasil de Fato que nunca conseguiu trabalhar com carteira assinada.
"Nunca consegui trabalhar com carteira assinada, apesar de sempre espalhar currículos por São Gonçalo e em Niterói. Depois que fiquei grávida, então, ficou ainda mais difícil. Tive trabalhos informais, mas como comprovo isso? Todos os lugares pedem experiência para pessoas que nunca tiveram experiência de trabalho", desabafa, acrescentando que o ensino médio não concluído a prejudica nas buscas por uma vaga.
Sem carteira
A baixa escolaridade, contudo, não é o principal motivo para a falta de trabalhos que exigem mais anos de estudo, como acontece em parte do comércio e no atendimento ao público. Também morador de São Gonçalo, no bairro do Barro Vermelho, Vinícius Dias Monteiro, de 24 anos, estava prestes a ser efetivado no ano passado em uma empresa que prestava serviço de tecnologia a uma grande rede de supermercados.
"Fiz todo o processo de treinamento, passei na entrevista, fui bem e estava a ponto de ser contratado, depois de ter estar nesse trabalho por quase dois meses, quando veio a informação de que a empresa precisava cortar custos. Desde agosto de 2021 estou sem trabalho. Agora, estou fazendo um curso de auxiliar veterinário e, futuramente, quero cursar a faculdade na área", diz Vinícius.
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A fraca recuperação econômica do país desanima Vinícius. Dez anos atrás, o primeiro trimestre de 2012 fechava o ciclo com desemprego de 16,1% entre os jovens na faixa etária dele. Dois anos depois, o índice no mesmo período caiu para 15,3%. Mas em 2021, ele foi de 30% no primeiro trimestre entre os jovens, até baixar para os atuais 22,8%.
"Não falo só por mim. Vejo muita dificuldade para nós jovens, principalmente, quando procuramos trabalho com carteira assinada. Confesso que estou desesperançoso, bem desanimado, por uma série de questões do Brasil. Acho que a educação no país está cada vez pior, o desemprego está cada vez mais forte, junto com isso vem meu desânimo", conta o jovem.
Baixos salários
No fim de maio, durante a divulgação dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), a coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE, Adriana Beringuy, lembrou que a taxa de informalidade (trabalhadores sem carteira e sem direitos) e a queda do rendimento persistem no Brasil.
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A taxa de informalidade caiu de 40,4%, no trimestre anterior, para 40,1% da população ocupada e o país tem 38,7 milhões de trabalhadores informais. Já o rendimento caiu 7,9% no ano: R$ 2.569 no trimestre encerrado em abril, apresentando estabilidade frente ao trimestre anterior e queda de 7,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.
Para os jovens, porém, a situação de empregabilidade não apenas é mais difícil. O IBGE apurou, ainda, que a renda de trabalho na faixa dos 18 a 24 anos é de R$ 1.452, diferença de mais de mil reais em relação à média nacional em todas as faixas de idade.
"Se a gente não se juntar, se a gente não for para a rua pedir mais emprego e uma educação melhor, vai piorar. As empresas, sozinhas, não vão querer fazer o bem e pagar salário melhor do que estão pagando agora. Alguma coisa precisa ser feita para isso mudar", opina Laryssa Costa, que agora está em casa para cuidar do bebê Adrian, de seis meses. O marido dela acabou de ter a carteira assinada depois de muitos meses na informalidade.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse