Mas tinha uma expressão para falar de coisa que não existe: manga de colete
Você já amanheceu com a boca seca e amarga, com gosto de cabo de guarda-chuva?
Se bebe e fuma, com certeza já sentiu isso quando exagerou na noite anterior.
Mas não estou aqui pra falar dos vícios de ninguém, e sim da expressão “gosto de cabo de guarda-chuva”. Nunca vi ninguém lamber cabo de cabo de guarda-chuva para saber que gosto tem, mas todo mundo entende, né? Existem outras expressões com o mesmo sentido, mas também nunca mais ouvi: gosto de tramela de paiol e gosto de corrimão de hospital. E nunca vi ninguém lambendo essas coisas também.
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E penso em outras expressões ou palavras que a gente quase não escuta mais. Como você explicaria de maneira brincalhona o significado da palavra “nada”, uma coisa que não existe? O humorista Barão de Itararé dizia que “Nada é uma faca sem cabo que lhe falta a lâmina”.
Mas tinha uma expressão para falar de coisa que não existe: manga de colete. Alguém pode falar: “De uns tempos pra cá, carne, nas minhas refeições, é manga de colete”. Só que ninguém mais, ou quase ninguém, usa colete hoje em dia, então tem quem nem saiba o que é colete.
Já repararam que a roupa masculina composta de calça e paletó é chamada de terno? Terno é um conjunto de três coisas, então falta uma peça de roupa aí. É que o colete fazia parte dessa roupa masculina: calça, colete e paletó. O colete, que não tem manga, caiu fora, mas ainda chamam essa roupa de terno.
Outra coisa que não escuto mais é do tempo em que relógio custava caro, e muita gente não tinha. Quando alguém perguntava as horas a algum sujeito gozador ou mal humorado, ele podia responder: “Relógio de pobre é na igreja”. Sim, hoje todo mundo tem relógio, ou usa telefone celular e pode ver as horas nele, pobre não precisa mais ver as horas em relógio de torre de igreja.
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E fuzarca? Ninguém mais faz fuzarca? Faz... só que não usam essa palavra para falar dela: nem dizem fuzuê ou bafafá: falam bagunça, gandaia, farra... Mas é tudo a mesma coisa. Quando é para falar da farra dos outros, de maneira crítica, chamam de baderna.
Bom... para enrolar as pessoas, ficar num lero-lero sem nenhum sentido, usam a expressão encher linguiça.
E suponho que já tem gente aí achando que eu estava sem assunto e resolvi encher linguiça. Então, paro por aqui.
Despeço com outra frase em desuso: “Até logo e 'bença'”!
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Daniel Lamir