O Partido Liberal (PL) exibe a partir desta quinta-feira (2) uma nova campanha de propaganda partidária em rádio e TV, com destaque para a pré-campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. As peças publicitárias focam nas medidas do governo federal para tentar aliviar a severa crise econômica em que o país está mergulhado e também apresentam uma face mais otimista para um eventual segundo mandato.
As informações sobre os conteúdos das publicidades do PL foram noticiadas na semana passada pela colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, que teve acesso ao slogan da campanha: "Sem pandemia, sem corrupção e com Deus no coração, ninguém segura esse novo Brasil".
Nesta quarta-feira, na véspera das veiculações em rede nacional, o canal do partido no Youtube passou a abrigar uma das peças da pré-campanha em que Bolsonaro. No vídeo de 40 segundos, o presidente aparece sorridente e cercado de jovens, para quem discursa sobre as vantagens do Pix nas transações bancárias.
Para o cientista social Francisco Fonseca, professor da FGV/Eaesp e da PUC-SP, Bolsonaro tentará, sem sucesso, reverter os danos à sua imagem e críticas à sua política econômica. “Essas narrativas não grudam mais, tanto que a avaliação do governo Bolsonaro é muito ruim. Quase 60% dizem que não votam nele de jeito nenhum. Os grandes temas das pessoas hoje no Brasil são o custo de vida, a inflação, e a incapacidade de ter uma vida decente”, identifica.
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Como vem sinalizando em discursos e viagens, a estratégia de marketing tem como alvo principal a população do Nordeste, região em que Bolsonaro tem os piores desempenhos nas pesquisas de intenção de voto. Por isso, serão destacados o índice de criação de empregos e a transposição do Rio São Francisco, que teve alguns trechos inaugurados nos últimos meses.
O senador Humberto Costa (PT-PE), em entrevista ao Brasil de Fato, afirma que o atual presidente tenta se beneficiar com a entrega de obras que já estavam perto de serem concluídas.
“Na verdade, nós executamos até o golpe contra a Dilma 88% das obras da transposição do São Francisco. Michel Temer fez mais 7% e Bolsonaro fez 5%. Ele agora quer se tornar o dono da obra, mas o povo do Nordeste sabe realmente qual foi o compromisso que o Lula e a Dilma tiveram”, afirma.
Pré-campanha tem regras, mas controle é difícil
Após serem extintas em 2017 pelo Congresso Nacional, as propagandas partidárias voltaram a ter exibição permitida meses antes do lançamento oficial das campanhas - que nestas eleições será no dia 16 de agosto. Também é necessário que sigam as regras e condutas estipuladas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O principal objetivo é permitir que os eleitores conheçam os programas e os projetos dos partidos, e a presença de candidatos em entrevistas e seminários. De acordo com o site do TSE, a “legislação proíbe a divulgação de notícias que possam ser comprovadas como falsas e a difusão da prática de atos que incitem a violência ou resultem em preconceito racial, de gênero e de local de origem”. As regras permitem, ainda, o impulsionamento de conteúdos na internet.
Cada partido também deve destinar 30% do tempo de suas propagandas para “promover e difundir a participação feminina na política”. A advogada Cláudia Bressan Brincas, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), considera a regra um avanço. Ela lembra que as campanhas eleitorais foram reduzidas a 45 dias - e já chegaram a ter 90 - o que aumentou a relevância das pré-campanhas.
“Costumo dizer que esse é o momento de maior preocupação por parte dos advogados, porque é quando acontecem os maiores deslizes. Atos às vezes até inconscientes dos pré-candidatos que podem configurar uma campanha antecipada ou até abuso de poder econômico ou político, podendo gerar uma investigação judicial eleitoral”, explica Cláudia.
Apesar do rigor das regras, além de uma maior vigilância nas redes sociais, a advogada também reconhece as dificuldades da Justiça Eleitoral em coibir práticas ilegais e, especialmente, a resistência em punir candidatos à presidência. Ela também comenta a vantagem competitiva inerente a todos os políticos que buscam se reeleger.
“A gente quer uma igualdade, mas aquele que já é detentor de mandato sai na frente, porque ele é conhecido, já foi eleito, tem a máquina pública, usa de veículos ou às vezes aviões para se deslocar. E isso dentro do razoável não tem uma vedação, faz parte”, comenta.
PT foca na crítica à economia
Já Lula (PT-SP), o principal adversário de Jair Bolsonaro na corrida presidencial, segue como favorito nas pesquisas. O levantamento divulgado pelo BTG Pactual nesta segunda-feira (30/5) mostra o ex-presidente com 46% das intenções, contra 32% de Bolsonaro. Lula também já está com peças de propaganda partidária no ar e tem buscado se contrapor às políticas do atual governo, especialmente na economia.
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Para Fonseca, dentre os desafios do ex-presidente, talvez o maior seja buscar votos dos conservadores e liberais que rejeitam Bolsonaro. Segundo ele, a aliança com Geraldo Alckmin e o constante resgate da memória sobre os “anos dourados” do país fazem parte da estratégia para conquistar essa parcela do eleitorado, assim como a forma como projeta a sua vida particular.
“Acho que o próprio casamento do presidente Lula, que é um casamento evidentemente privado mas com dimensões públicas, tem uma lição clara, que é 'o amor venceu’, e não armas ou violência”, compara o sociólogo.
De acordo com Humberto Costa, a pré-campanha petista continuará atacando os que principais problemas atuais para a população: “a inflação descontrolada, que já está avançando sobre a classe média, a baixa atividade econômica, a desigualdade (...) e, por outro lado, também continuar denunciando a ameaça que o Bolsonaro representa à democracia, sabendo que a maioria da população brasileira defende o regime democrático”, diz.
Edição: Thalita Pires